Pizza ou peixe frito?

Publicado em 27/08/2016 00:08

Era uma vez na Terra Prometida das Araras Rosas, Azuis e Amarelas.
Nos bastidores de uma matilha de cães o filhotinho pergunta para o seu pai:
— Pai!
— Sim, filhão.
— O que é política?
— Nossa, que pergunta! Por que você quer saber?
— Porque eu tenho ouvido muito essa palavra na rua, pra lá e pra cá, e nunca entendo o que quer dizer.
— É assunto pra cachorro velho, doente, abandonado… mas posso lhe dizer que tem a ver com governo, direitos, deveres, cidadania, enfim, essas coisas são complicadas demais.
— Você gosta de política, pai?
— Eu? Claro que não. É muito chato e não leva a lugar nenhum. É tudo igual a rato.
— Viu?! Primeiro você fala que política é uma coisa legal. Agora vem falar que é coisa de ladrão. Tudo é política?
— Não, não. É que está tudo ligado mesmo. Eles se candidatam para assumir o governo, reduzir nossos direitos, aumentar nossos deveres e roubar o nosso precioso osso.
— Ah, tá. Acho que entendi. Mas, pai, se influencia tanto na nossa vida, por que você não se interessa?
— Porque tem coisa que é melhor nem ver. Muita sujeira.
— A professora falou que é muito importante a gente saber sobre política. Ela disse que devemos ter um voto consciente.
— Vocês são novos demais pra falar disso.
— Eu queria saber mais o que é voto consciente.
—Não importa muito. Esse negócio de governo é coisa pra alimentar os bichos que não têm o que fazer. O que importa é trabalhar, ganhar o nosso osso de cada dia.
— E quem não tem trabalho, pai? O marido da dona Lulu não trabalha. Ela disse que o cachorro está desempregado e estão roendo o osso que o jacaré amassou.
— Um vagabundo, sarrnento, isso sim.
— Ela disse que ele não estudou em nenhuma escola. Estranho né, não é nenhum burro.
— Viu só, filhão? O negócio é estudar, trabalhar e não ter do que reclamar depois olhando pro teto às custas do salário de doméstica da cachorra.
— Eu estudo, pai. Pode deixar.
— Essa bicharada é muito engraçada. Não estuda, não quer saber de nada e acha que vai se dar bem? Aí chega o governo e dá esmola. Esmola que nós pagamos!
— A gente que paga pro cachorro da dona Lulu?
— Como se fosse. Esses animais não querem saber de nada. Eles não querem aprender a usar o anzol, pescar e cozinhar. Eles querem o peixe prontinho. Assim é fácil.
— Peixe frito?! Não entendi.
— É forma de falar. Deixa pra lá. Perco a paciência só de pensar nisso.
— Pai, você falou em peixe frito e acabou me dando uma fome pra cachorro. Vamos almoçar?
— Boa ideia. Vamos pedir uma pizza, porque hoje é domingo, e a dona Lulu não vem.
— Ainda vai pedir? Demora muito. Por que você mesmo não faz algo?
— Porque eu não sei cozinhar.
— Por que você não aprende?
— Porque não tem quem me ensine hoje, e você está com fome. Não vai dar tempo de aprender nada agora. Deixa para o outro dia.
— Está bem, pai. Pena que vamos pedir pizza no Betinho. Se fosse peixe, a gente pedia pro governo.

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