Um café pra nós dois

Publicado em 22/02/2025 00:02

No dia 18 de junho de 1908, as primeiras famílias vindas do Japão no navio Kasato Maru desembarcaram no porto de Santos com o sonho de “colher o ouro que dava em árvores”, como dizia a propaganda oficial do governo brasileiro para arrebanhar trabalhadores para as fazendas de café. Foram 781 pessoas que enfrentaram uma longa viagem de vapor, vestidas com roupas ocidentais, diferentes dos quimonos usados no País do Sol Nascente, tradução literal dos ideogramas que podem ser lidos como Nihon (ni-rron) ou Japão, em português.
A esperança de encontrar riqueza logo se desfez diante do duro trabalho da colheita de café, basicamente no Estado de São Paulo, onde as colônias de japoneses se distribuíram em regiões como a Alta Paulista, Mogiana, Noroeste e Sorocabana.
Apesar das dificuldades, como a distância do país natal, do clima tropical e da diferença de cultura, muitos resolveram adotar o Brasil como seu novo lar. Assim, formaram a maior comunidade de descendentes fora do Japão, hoje com pouco mais de 2 milhões de pessoas.
O café foi o dínamo da imigração japonesa, tornando-se depois moeda de contribuição dos descendentes no Brasil, em áreas tão distintas como a cafeicultura, a indústria e o comércio. Muitas famílias continuam sua dedicação ao cultivo do café em várias regiões do Brasil, algumas realizando exportações para diversos países. Com a evolução da cafeicultura, que avançou por regiões do Planalto Central, a mecanização foi sendo incorporada massivamente, inclusive na colheita dos frutos. A primeira colheitadeira mecânica automotriz de café do mundo é da brasileira Jacto, fundada por Shunji Nishimura, em Pompéia, SP, tornando-se referência no mercado.
O Café do Ponto era uma torrefação, que tinha como sócio o visionário Américo Sato, cujo mérito foi o de criar uma rede de cafeterias muito avançada para a época, o Café do Ponto, localizada na sua icônica loja no Shopping Ibirapuera, cujos consumidores se surpreendiam com o sabor especial do café espresso.
Mas foi o rei Roberto Carlos, que nos anos 70, profetizou o alto preço do café no país ao compor a música, “Café da Manhã”, onde um dos seus versos românticos diz: “Amanhã de manhã, vou pedir um café pra nós dois…”

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