A POLÍTICA PRODUTIVISTA DO AGRONEGÓCIO

Publicado em 19/08/2022 00:08

No Brasil, o ajuste estrutural neoliberal impôs uma abertura comercial que fragilizou a produção interna, uma desregulamentação do mercado financeiro que favoreceu os capitais especulativos em detrimento do capital produtivo e, entre outras coisas, um processo de privatização que acabou por desnacionalizar antigas empresas estatais.
A contribuição do governo para a estruturação do agronegócio no Brasil foi notória.
Segundo Delgado (2010:94), o governo adotou como prioridade o investimento em infraestrutura territorial com “eixos de desenvolvimento” que, na verdade, foram corredores de exportação para facilitar o escoamento da produção rumo aos mercados externos; também direcionou a Embrapa a operar em perfeita sincronia com empresas multinacionais do agronegócio. Além disso, ainda diminuiu o controle sobre áreas devolutas e trabalhou com políticas cambiais de modo funcional ao interesse do agronegócio.
Evidentemente, são muito importantes as inovações no modo de produção do setor agrícola no Brasil. Contudo, longe de arrefecer as desigualdades socioeconômicas presentes no campo, tais inovações acabaram por aprofundar o já elevado grau de concentração tanto da terra quanto do capital, além de negar emprego e avançar no histórico processo de esvaziamento do campo. Desde 1995, mais de 1,3 milhão de pessoas abandonaram as atividades rurais.
Analisando-se desde 1985, tem-se um número mais expressivo ainda: 6,8 milhões de trabalhadores ou uma redução de quase 30% do pessoal ocupado.
Desde o surgimento e consolidação dos Complexos Agroindustriais, o processo de modernização foi altamente excludente de determinados grupos sociais e regiões econômicas (Kageyama et ali, 1990; Delgado, 1985). As políticas públicas voltadas para um modelo produtivista que privilegiou a formação de cadeias complexas tiveram como consequência três características complementares entre si: a primeira foi a verticalização da produção agrícola, voltada à consolidação de complexos agroindustriais internacionalizados; a segunda foi a formação de nichos regionais de especialização produtiva; e a terceira foi o elevado grau de concentração tanto da terra quanto do capital.

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