JOÃO MARIA

Publicado em 12/04/2025 00:04

Semana que vem o tio Joãozinho fará 90 anos.
Deram-lhe o nome abençoado: Tio João Maria, e era um senhor sertanejo. Ele trabalhava no sítio do Kaminishi cuidando de gado, roçando pasto, arando terra e tirando leite, no retiro da propriedade. Múltiplas funções.
Quando visitava o sítio, ainda pequeno, ele pacientemente deixava eu andar a cavalo e pescar na lagoa.
Porém, um dia resolveu, com toda a família, mudar para Três Fronteiras e montar um açougue, mas aquela atividade não era própria para quem amava verdadeiramente os animais. Aí resolveu novamente mudar, agora para São Paulo, capital.
Adão, seu filho, de pressa, já foi estudando, via Correios, pelo Instituto Universal Brasileiro. Eva, a filha mais velha, se preparando para enfrentar a capital. Silvinha, a mais nova, queria conhecer a cidade grande, pois cansou de ser a “menina da porteira” para abri-las aos cavaleiros, no sítio.
Os filhos assim determinados se preparavam para mudar para a capital e a Marina, minha tia Ina, irmã de minha mãe, já estava preparada, pois para ela era apenas mais uma etapa para educar seus filhos e para que eles pudessem trabalhar.
Tio Joãozinho se preparou tirando carta de motorista e assim deixaria o lombo dos animais, já que queria dirigir lá na capital paulista, local que nunca tinha ido e apenas conhecida por televisão.
Chegando à capital, tio Joãozinho foi numa empresa de ônibus pedir emprego, esperava começar de cobrador, mas o gerente perguntou se ele tinha carta de motorista e lhe deu um ônibus para fazer teste.
Tio Joãozinho por minutos tremeu… mas invocou a proteção de Nossa Senhora Aparecida e, sem nunca ter dirigido um ônibus, em uma cidade que desconhecida, aceitou o desafio.
As pernas tremiam. Entregaram-lhe a chave do veículo. Deu a partida. Engatou a marcha e até hoje não sabe de que maneira saiu a dirigir pelas ruas da capital bandeirante como se conhecesse igual a palma de sua mão.
O gerente então aprovou o novo motorista da empresa e ele por 40 anos dirigiu aquele ônibus lotado pelos trabalhadores, sem eles saberem, no início, que aprendeu a dirigir ali trabalhando.
Desse dia para a frente nunca mais acreditei ou tive esperanças em Shazam, incrível Hulk ou Batman, porque meu super-herói é meu tio Joãozinho que pilotou um ônibus como Airton Sena, dirigiu uma família com a habilidade de Alain Prost e venceu o jogo da vida sem precisar da ajuda de ninguém, só no começo que teve uma mãozinha de Nossa Senhora Aparecida, para fazer o teste de motorista naquele ônibus. Também pudera, isso para Nossa Senhora não é nada…mas para Tio Joãozinho aquela ajudinha foi a vitória de uma vida. 90 anos de dignidade e fé! Parabéns.

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