O POLÍTICO TRAIDOR
A política, em sua essência, é um contrato de confiança. Um acordo silencioso entre o eleitor e o eleito: “Eu te dou meu voto, minha esperança e meu aval, e você me representa com integridade”. A crônica do “político traidor” é a história de quando esse contrato é rasgado em público, sem aviso prévio. Abandonando a luta, abandonando o País.
O personagem central desta crônica não tem nome, mas tem muitos rostos. Ele começa a carreira com um discurso inflamado, olhos brilhando com idealismo (ou uma ótima atuação), prometendo lealdade inabalável aos princípios que o elegeram. Ele é o defensor do povo, o paladino da justiça social, o guardião dos valores. Mas, como traidor, vai ter preço!
O tempo, no entanto, é um teste cruel para o caráter.
A traição, nesse palco, raramente é um ato súbito e dramático com capas pretas e punhais. É um processo gradual, quase imperceptível para quem não presta atenção aos detalhes. Começa com pequenas concessões: um voto “difícil” justificado por “negociações maiores”, um silêncio em plenário sobre um tema que antes era bandeira de luta.
Aos poucos, o discurso muda. O que era “inaceitável” vira “compreensível”. O que era “princípio inegociável” vira “flexibilização estratégica”. A lealdade ao eleitor é substituída pela lealdade ao poder, ao cargo, ao partido majoritário que oferece a fatia maior do bolo. O “nós” do povo vira o “eu” da carreira.
A traição se consuma quando a base eleitoral se vê no espelho e não reconhece mais a pessoa para quem votou. O político que prometeu lutar contra o sistema agora senta à mesa principal do sistema, rindo das piadas internas, compartilhando o vinho caro.
A crônica do político traidor é a crônica do cinismo e da decepção.
O final da história é sempre o mesmo: a base se sente órfã. A confiança se esvai como água entre os dedos. O traidor pode até prosperar por um tempo, surfando na onda do novo poder, mas deixa para trás uma trilha de desilusão que contamina o campo político inteiro, fazendo com que o próximo candidato, por mais honesto que seja, já seja recebido com um olhar de desconfiança e um ceticismo profundo.
No Brasil ou nos EEUU têm político traidor.
Resgatar a importância da lealdade não é um retorno a um passado ingênuo, mas uma necessidade para construir um futuro onde as relações humanas — incluindo as políticas e profissionais — sejam baseadas em bases sólidas de respeito mútuo e confiança.
A traição não pode ser normalizada; ela deve continuar a ser vista como o ato indecoroso que sempre foi.

