ZÉ DO VIOLÃO
Em Três Fronteiras morou o saudoso Zé do Violão, pai do Edson, apelidado de Boquinha. Com ele tive a certeza que certas pessoas são autodidatas, pessoas com capacidade de aprender algo sem professor ou sem ensino formal.
Ele tocava violão “só de ouvido”, como se dizia na minha época. Impressionava, sem nunca ter ido à escola. Sequer sabia assinar o seu nome.
Quando nos reuníamos, eu, o Ademir Melo, o Nira, o Boquinha, o saudoso Joel, dentre outros, chamávamos o Zé do Violão e ele tocava qualquer música.
Um dia falei: toca o hino do Corinthians, e ele perguntava como é: alguém balbuciou a letra e ele imediatamente tocava e solava a música como se a conhecesse há tempo.
Num certo dia um amigo meu passava no local e entrou, ouviu e ficou impressionado.
Ele estava com o hinário da igreja evangélica e eu desafiei para que esse amigo balbuciasse verbalmente qualquer cântico daquele hinário.
Um a um o senhor Zé do Violão foi solando no violão como se fosse um verdadeiro evangélico e músico da Igreja.
Meu amigo ficou admirado, na verdade, espantado.
E o que mais o impressionou foi o Zé do Violão dedilhar, com perfeição, o Hino Forte Rocha, de autoria de Martinho Lutero (se não me falha a memória), sob numeração 384, contido no Hinário – que Zé do Violão jamais conheceu ou pudesse ter tomado conhecimento.
Zé do Violão era um lavrador genuíno, mãos calejadas de se agarrar no cabo da enxada. Faleceu, e o seu talento não foi potencializado em nossa cidade e região. Uma pena!
A mesma mão que se agarrou na enxada, mas que, nos braços do violão, o segurava com uma intimidade, além do dom de sozinho aprender a música, o violão parecia sua namorada.
Nossos heróis anônimos, mas que povoam o imaginário coletivo de nossa cidade e de nosso coração.
Saudades!