A criação da verdade

Publicado em 8/03/2014 00:03

Observando algumas situações cotidianas, podemos perceber que existem aquelas pessoas ao nosso redor que tentam impor a sua vontade, através da afirmação de suas “verdades”, que, na verdade, são certas apenas para si próprias.
Não existe no mundo, mesmo nas mais rígidas leis humanas, regra alguma que possamos dizer ser plenamente verdadeira e sem exceções. Matar um homem é crime, mas, fazê-lo em legítima defesa, por exemplo, é uma atitude que exclui a ilicitude. É uma exceção à regra.
Da mesma forma, nas relações humanas sempre deve ser analisado as atitudes do próximo com um quê de cautela, pois, algumas vezes, a motivação por trás destas pode ser plenamente justificada.
Existe uma história interessante do século XIV, escrita por Khawajah Nasr Al-Din, conhecido como Nasrudin, o mestre de muitos dos ensinamentos do Sufismo, espécie de seita religiosa de sabedoria e vida, que conta sobre a “criação da verdade”.
As leis não fazem com que as pessoas fiquem melhores, disse Nasrudin ao Rei. Elas precisam, antes, praticar certas coisas de maneira a entrar em sintonia com a verdade interior, que se assemelha apenas levemente à verdade aparente.
O Rei, no entanto, decidiu que ele poderia, sim, fazer com que as pessoas observassem a verdade, que poderia fazê-las observar a autenticidade – e assim o faria.
O acesso a sua cidade dava-se através de uma ponte. Sobre ela, o Rei ordenou que fosse construída uma forca.
Quando os portões foram abertos, na alvorada do dia seguinte, o Chefe da Guarda estava a postos em frente de um pelotão para testar todos os que por ali passassem. Um edital fora imediatamente publicado: “Todos serão interrogados. Aquele que falar a verdade terá seu ingresso na cidade permitido. Caso mentir, será enforcado.”.
Nasrudin, na ponte entre alguns populares, deu um passo à frente e começou a cruzá-la.
— Onde o senhor pensa que vai? – perguntou o Chefe da Guarda.
— Estou a caminho da forca – respondeu Nasrudin, calmamente.
— Não acredito no que está dizendo!
— Muito bem, se eu estiver mentindo, pode me enforcar.
— Mas se o enforcarmos por mentir, faremos com que aquilo que disse seja verdade!
— Isso mesmo – respondeu Nasrudin, sentindo-se vitorioso. Agora vocês já sabem o que é a verdade: é apenas a sua verdade.

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