O amor e a vida
Para discorrer brevemente acerca de uma ideia interessante sobre a convivência humana, recorro a alguns fundamentos aprendidos com o brilhante professor de Ética da USP, Dr. Clóvis de Barros Filhos, que sabiamente explana tal assunto através da explicação da definição de amor.
São três as principais concepções filosóficas clássicas (definições) de amor: a de Platão, a de Aristóteles e a de Jesus Cristo.
Enquanto a definição de Platão se revela através do desejo, “Eros”, como descrito em grego, trazendo a ideia de que só poderíamos amar aquilo que desejamos e enquanto desejamos, lembrando-nos a usual caracterização do “amor apaixonado”, expressado pelo reconhecido termo “amor platônico”, para Aristóteles o amor se define na palavra “Philia”, que se caracteriza pelo encontro, ou seja, pelo amor ao que já se tem, não pelo que se gostaria de ter, mostrando-se, assim, em uma alegria pelo mundo que já nos faz bem.
Já o amor de Cristo é “Ágape”, pois, enquanto no desejo e na alegria o que importa é quem ama, no amor de Jesus o que importa é a alegria do amado. No amor de Cristo, quem ama deve recuar para que o amado avance. O amado deve ser o centro de gravidade do afeto, valendo, neste norte, lembrarmos as palavras do importante filósofo e padre italiano, São Tomás de Aquino, que escreveu que “enquanto o amor humano tende a apossar-se do bem que encontra no seu objeto, o amor divino cria o bem na criatura amada”.
Deste modo, com tais definições de amor, pode-se concluir que a vida vivida com o amor direcionado apenas através de uma destas formas não será suficientemente satisfatória e alegradora.
É preciso desejar, se alegrar e amar ao próximo.
Refletindo, percebemos que a interação dos três amores faz-se visivelmente necessária e saudável, uma vez que devemos amar “eroticamente” aquilo que queremos, à moda de Platão, alegrando-nos, contudo, de forma aristotélica com aquilo que já temos e que nos faz bem, dando, assim, sentido ao que se deseja, e, finalmente, buscando conservar a nossa volta pessoas alegres e amadas, de modo que cabe a nós zelar pela sua alegria, já que não tem sentido sermos uma chama de felicidade em meio a um mar de tristeza.
Inexiste uma fórmula exata para se ter uma vida boa. No entanto, seguindo tais preceitos, ela dificilmente poderá dar tão errado.