De onde vem o mal
Trago na coluna de hoje o texto escrito por mim nesta última segunda-feira, 7 de setembro, dia marcado pela comemoração da Independência do Brasil.
Procurei retratar nele minha revolta e abalo, principalmente após ver a capa da revista Veja, que trouxe a foto de Aylan Kurdi, o menino sírio de apenas três anos que morreu afogado, junto de seu irmão e sua mãe, tentando fugir da guerra provocada em seu país pelo temido grupo terrorista Estado Islâmico. A seguinte frase de Santo Agostinho estava sobre a foto: “Deus, sendo bom, fez todas as coisas boas. De onde então vem o mal?”. Abaixo da imagem do menino afogado, seguia a citação do poeta polonês Czeslaw Milosz: “O mal (e o bem) vem do homem”.
Visualizando tudo isso, escrevi o texto abaixo. Confira:
Hoje, 7 de setembro, acabo de receber o exemplar da revista Veja.
Esperava vir aqui para escrever um belo texto sobre a independência de nosso país, que há 193 anos ocorreu às margens do Rio Ipiranga.
Contudo, ao deparar-me com essa imagem – que tenho evitado ver durante essa semana -, somada a estes dizeres, que foram escolhidos com uma precisão praticamente indizível, senti-me como um homem atingido por uma bala.
O impacto acertou-me de tal maneira, que sinto agora o sangue escapar-me das veias, como se junto esvaísse o resto da esperança que eu possuía na humanidade.
Tudo é gélido em minha alma.
“Estamos perdidos?”; pergunto-me aflito, respondendo de imediato. Sim. Mas, – conjecturo -, talvez, ainda reste esperança para nós em algum lugar.
Um lugar onde famílias fugindo da guerra não se afoguem nos seus sonhos. Onde aviões não sejam lançados como mísseis contra prédios. Onde jovens não tenham suas vidas destruídas no incêndio de uma boate. Onde governantes não tirem o remédio da necessidade dos doentes, ou a comida da boca dos pobres, para viverem no luxo (lixo) da corrupção.
Czeslaw Milosz responde Santo Agostinho. O mal vem do homem.
No entanto, existe um lugar onde o parênteses de sua frase, “e o bem”, ainda subsiste e, possivelmente, pode voltar a predominar sobre a face da Terra: o coração do próprio homem.
Numa data em que nossa nação comemora sua independência política, rogo a Deus para que chegue o dia em que possamos comemorar no mundo todo a libertação da individualidade, do egoísmo, da ganância e do mal.
Neste dia, ao invés de astiarmos bandeiras, elevaremos nossas almas aos céus, e, talvez, sejamos então chamados para vivermos a glória da vida eterna.
O mal vem do homem.
O bem também.
Que Deus nos ajude.
Amém!