Lição de vida em meio a multidão
Assisti a uma cena curiosa alguns dias atrás.
Habitualmente frequenta o calçadão central da cidade de São José do Rio Preto, nas proximidades do Praça Shopping, possivelmente já deve ter visto uma senhora de idade, deficiente visual, que, durante o dia, toca sanfona e canta clássicos sertanejos, em troca da ajuda dos transeuntes.
Enquanto aguardava uma amiga que fazia compras, em uma loja defronte do local onde fica essa senhora, passei a ouvir a sua bela apresentação, que, aliás, deixa muito sanfoneiro profissional no chinelo.
Passei a reparar também a atenção que davam para ela, bem como aqueles que de fato a ajudavam.
Uma enxurrada de engravatados e madames desceu e subiu sem, aparentemente, sequer conseguir ouvir, ou enxergar a pobre mulher.
Como era próximo do horário de almoço, muitos lojistas transitavam por ali, e estes, ao menos, dirigiam olhares carinhosos para aquela demonstração de talento.
Mas, então, aconteceu algo impactante.
Um senhor de idade, de trato e vestimentas simples, guiando uma cadeira de rodas, por ter ambas as pernas amputadas, parou defronte a senhora e começou a mexer nos bolsos.
Procurou, por quase um minuto, até conseguir juntar nas mãos algumas poucas moedas, que, provavelmente, era tudo que tinha, para depositar na urna defronte a artista de rua.
Mesmo sabendo que ela não podia lhe ver, sorriu, acenou com a cabeça, e seguiu seu caminho, carregando no rosto uma expressão inconfundível de gratidão.
Aquilo foi simplesmente uma lição de vida disfarçada em meio a multidão.
Comprovou que, na maioria das vezes, os que mais ajudam são aqueles que menos têm.
Demonstrou a consciência de solidariedade existente, principalmente nas pessoas que também necessitam dessa, uma vez que, sem dúvidas, aquele homem, de um modo ou de outro, também precisa da ajuda de alguém para certas situações em sua vida.
A forma encontrada por ele para retribuir tudo aquilo que recebe foi dando àquela senhora o pouco que tinha, sabendo que, talvez, para ela isso seja essencial.
Depositei algumas moedas na urna da mulher, e vi diversas pessoas fazerem isso, quem sabe, por também terem reparado aquela bela atitude do senhor da cadeira de rodas.
Se olharmos a nossa volta, o mundo está cheio dessas pequenas lições de vida, e, nas coisas mais simples que imaginarmos, podemos ser capazes de começar a mudar a realidade dele para melhor.