Missa de Sétimo Dia/Chá de Bebê

Publicado em 29/05/2015 23:05

Enquanto alguns aguardavam angustiados defronte à Emergência, outros esperavam ansiosos perante a Maternidade.
Almejavam por notícias completamente distintas, mas apresentavam sinais tão semelhantes naquela espera que facilmente se confundia “quem” aguardava “o quê”.
Os cochichos, por mais inaudíveis que fossem, soavam feito estardalhaço em meio ao silêncio que a maioria optava por manter.
Bom ou ruim, preferiam fingir que não sabiam o que estava por vir. Uns com medo de encarar; outros, com receio de se enganar.
Então, simultaneamente, os médicos abriram as portas para noticiar.
Um deles retirou a máscara e olhou para baixo. O outro fez a sua mascarar-se com o sorriso debaixo.
“Morreu”.
“NASCEU!”.
Sentenciaram os doutores.
Um corredor foi só silêncio. O outro foi só festa.
Uns tentavam imaginar como explicariam aos outros sobre aquele desastre. Outros começavam a idealizar como uns ficariam com tamanha felicidade.
Ao cruzarem-se no Hospital da Vida, uns fingiram mais, outros fingiram menos. Uns que estavam mais felizes – do que realmente estavam – pelo nascimento, outros que estavam menos felizes – do que realmente estavam – pela morte.
“Precisamos nos unir”, disseram mecanicamente num abraço desajeitado.
Daí segue a história: uns afirmando que “dá certo”, outros duvidando que “de certo”.
Enquanto isso, restam aqui os boletins médicos que esclarecem os acontecimentos.
Boletim da Emergência:
“A Ficcap está morta. A festa de 41 anos faleceu de causas naturais, com falta de recursos suficientes para seu custeio e – principalmente, segundos os exames – falta de planejamento antecipado para sua realização. A ‘família’ agora estuda como contar aos conhecidos que a ‘menina dos seus olhos’, conhecida popularmente como ‘festa do povo’ ou ‘festa de portões abertos’, não estará mais tão aberta assim como era nas promessas de palanque”.
Boletim da Maternidade:
“A Expo Santa Fé nasceu. Após um parto complicado, que trouxe riscos ao nascimento, a festa já respira sem a ajuda de aparelhos (governamentais) e parece ter caído na graça – mesmo que não “de graça” – do povo. Apesar de alguns levantarem ‘incertezas’ quanto ao seu crescimento, dificilmente lutarão contra o seu sucesso. A ‘família’ está muito feliz. Nada mais justo que isso. Afinal, é aquilo que dizem: pai não é aquele que põe no mundo; pai é aquele que cria, cuida e ensina a viver”.
Para uns é Missa de Sétimo Dia, para outros é Chá de Bebê.

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