Nunca se esqueça disso

Publicado em 27/02/2015 23:02

Deixo hoje de lado os temas jurídicos que venho trazendo em minha coluna, para narrar um ocorrido da última semana.
No início da madrugada do último domingo, 22, voltava de Jales para Santa Fé do Sul quando me deparei com uma cena assustadora na rodovia Euclides da Cunha.
Defronte a cidade de Urânia, cerca de 500 metros além do viaduto de acesso (onde há um radar), havia um homem caído à margem com a sua bicicleta, sendo que parte de seu tronco estava dentro da linha que separa o início do acostamento da rodovia.
Com rapidez, desviei o carro e estacionei, ligando o pisca alerta.
Corri para onde o homem estava dando sinal para que um caminhão que se aproximava diminuísse a velocidade, e rapidamente o puxei para fora da pista.
Apesar da velocidade com que tudo ocorreu, ao me aproximar notei que ele lutava para se levantar, mas, por não conseguir se desvencilhar da bicicleta, não obtinha êxito.
Já com mais calma, enquanto levantava sua bicicleta no acostamento e partia para ajudá-lo a se levantar também, notei que se tratava de um senhor de idade avançada. Cerca de 70 anos. Notei também o motivo da queda e permanência ao chão: sua embriaguez.
Meu coração ainda estava disparado com aquele susto, porém, mantive a calma para poder verificar se ele havia sofrido alguma lesão, o que percebi não ser o caso.
Ao questioná-lo sobre o que acontecera e para onde estava indo, obtive de início apenas respostas ininteligíveis, mas, com paciência, esperei que ele balbuciasse que “morava ali embaixo”, se referindo claramente à continuidade da estrada marginal, ao lado da rodovia, onde se podiam notar algumas luzes ao longe.
Somente após convencê-lo – com muito custo – a me deixar ajudá-lo atravessar o mato e ir até a marginal, onde era mais seguro seguir seu destino, foi que consegui pensar em ir embora dali.
Ainda aguardei aflito enquanto ele montou na bicicleta e saiu meio tonto pelo caminho, mas, depois de umas pedaladas, pareceu encontrar mais uma vez parte do equilíbrio.
Quando já estava no carro voltando para casa, resolvi conversar com Deus.
Em meio àquela oração, onde pedi que o Senhor levasse em segurança aquele homem para sua família, fui tomando consciência de algo que me tocou.
O quanto algumas vezes nós não sabemos lidar com essa situação.
Muitos não sabem lidar de forma alguma com isso, visto que provavelmente alguns motoristas passaram por aquele senhor caído e, talvez imaginando o motivo, resolveram apenas desviar e seguir viagem.
Às vezes temos em nossa família ou círculo de amizade alguém que enfrenta problemas com algum vício, como o álcool, por exemplo, porém, a paciência ou sabedoria necessária nem sempre está em nosso interior para poder ajudar aquela pessoa e compreender o que ela passa.
É difícil lidar com elas, não é mesmo?
Então, em vez de tentarmos, e de parar o que estamos fazendo para ajudá-los, nós resolvemos simplesmente desviar do problema e seguir em frente.
Isso é um erro.
Devemos de todas as formas tentar pacientemente auxiliar quem luta contra algo que, mesmo que não entendamos, é mais forte que a sua própria determinação.
Quis dividir esse ocorrido e essa reflexão com vocês para, quem sabe, ajuda-los a ajudar alguém que esteja precisando.
Estenda a mão, ajude-o a se colocar de pé e acompanhe-o pelo caminho.
O bem que fazemos pelo próximo é tudo que levaremos dessa vida.
Nunca se esqueça disso.
Eu nunca mais me esquecerei.

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