Perseverança, “a virtude dos menos brilhantes”
Parte do título da coluna está entre aspas por um motivo: a frase foi dita por Santiago Ramón y Cajal, e, antes mesmo de falar sobre as principais motivações que o levaram a dizê-la, é interessante analisar um pouco da sua história.
Santiago Ramón y Cajal nasceu em 1852 em uma aldeia com baixos recursos, na região de Navarra, na Espanha, onde viveu a juventude junto aos pais e ao irmão.
Desde criança interessava-se por arte, especialmente pintura e fotografia, e também gosto pela ginástica.
Contudo, o seu pai, um barbeiro que havia se formado em Medicina, insistia para que o menino tendesse a seguir a carreira médica.
Ocorre que Santiago era um jovem rebelde, e aos 11 anos foi preso após destruir as portas da localidade onde morava com um canhão feito em casa.
Essa rebeldia, em boa parte motivada pelo desinteresse na educação que era ansiada por seu pai, seguiu também durante os primeiros anos da universidade.
Tudo indicava que essa seria mais uma história de insucesso.
Mas, em dado momento, a atitude de Santiago Ramón mudou.
Após finalizar a licenciatura e ter sido nomeado médico no Corpo Médico Militar, participando ativamente da guerra em Cuba, que na época era considerada província espanhola, o jovem voltou para a Espanha e interessou-se por histologia e patologia, concluindo o seu doutoramento em Medicina.
O estudo de Cajal sobre essas vertentes, entre os anos de 1885 e 1886, resultou na publicação do “Manual de Histologia”, uma obra que ainda hoje é considerada relevante na medicina.
Após isso, iniciou um estudo aprofundado sobre a estrutura do sistema nervoso, e, tamanho o impacto e reconhecimento revolucionário das suas pesquisas sobre as células nervosas, em 1906 recebeu, juntamente com o médico italiano Camillo Golgi, o Prêmio Nobel de Medicina.
Em sua autobiografia, Santiago Ramón y Cajal revelou que, ao longo de sua carreira, trabalhou com muitos cientistas que eram muito mais brilhantes que ele.
No entanto, Cajal salientou também que descobriu que apesar de pessoas brilhantes poderem fazer um trabalho excepcional, assim como os demais estão propensas a serem descuidadas e, por vezes, tendenciosas.
Segundo ele, a perseverança é a virtude dos menos brilhantes, sendo que essa, aliada a sua grande capacidade de ser flexível, admitir erros e mudar de opinião, foi a chave para todo o seu sucesso e suas conquistas.
A história desse espanhol revela claramente que não é preciso ser um “gênio natural” para lutar pelos seus objetivos, sendo que para isso, inclusive, é desnecessário abandonar outros sonhos que se tenha, pois, vale dizer, a habilidade de Cajal com pintura foi essencial quando ele decidiu reproduzir com fidelidade as células, neurônios e o sistema nervoso em geral.
Portanto, basta ter perseverança para vencer.
Tudo depende da sua atitude.