Por que choram os nossos atletas?

Publicado em 20/08/2016 00:08

Assistindo as premiações dos Jogos Olímpicos do Rio 2016, notei algo curioso e que, apesar de aparentemente fácil de ser explicado, carece de uma reflexão mais profunda.
A diferença entre um brasileiro e um atleta de outro país ganhando uma medalha em alguma modalidade é tremenda.
Sim, certamente em razão da nossa cultura, que remete as nossas origens, bem como a formação da nossa “identidade” enquanto cidadãos, nos tornamos uma das nações mais emocionalmente “sensíveis”.
Sensíveis no sentido de sermos tomados mais facilmente pelas emoções, sejam elas de alegria ou de tristeza.
É aquela história que os turistas estrangeiros que nos visitam, independentemente da época do ano ou da realização de algum evento, dizerem que “somos um povo alegre”.
Contudo, por traz dessa emoção “aflorada” nos momentos das conquistas ter um viés cultural, temos também uma outra explicação mais simples e deveras assustadora.
A calamidade governamental do nosso país que se reflete nos investimentos – a falta deles – em áreas como o esporte, por exemplo.
Durante uma competição de natação, modalidade em que os americanos “engolem” não só o Brasil, mas muitos outros países, em determinado momento o locutor da emissora de TV citou alguns números astronômicos alcançados pelo esporte universitário nos Estados Unidos.
Isso mesmo, os números colossais, que se referiam a quantidade de centros de formação de atletas e conquistas, referiam-se ao esporte universitário, que é a base de força e tradição do esporte nos EUA.
Para se ter ideia da dimensão desses números, a NCAA (National Collegiate Athletic Association), entidade que gerencia o esporte acadêmico nos Estados Unidos, projetou uma arrecadação para a temporada de quatro anos atrás, 2011-2012, de cerca de U$ 777 milhões (aproximadamente R$ 2,5 bilhão), dos quais 90% eram de contratos publicitários.
O país possui milhares de centros de formação de atletas, a maioria deles exatamente nas universidades americanas, sendo que, no entanto, o trabalho de educação associada ao esporte começa quando o aluno ainda está no ensino fundamental, que prepara os jovens que se destacarem para conseguirem bolsas de estudo nas instituições superiores com programas esportivos.
Para se ter uma ideia da força dos times das universidades americanas, segundo a revista Forbes, o time universitário de futebol americano Texas Longhorns, da Universidade de Texas, vale U$ 139 milhões (cerca de R$ 440 milhões), valor superior ao de muitos times profissionais da Série A do futebol brasileiro.
E não dá para questionar o resultado de tais investimentos realizados pelos americanos, sejam eles públicos ou privados, uma vez que este projeto de fomento ao esporte universitário já revelou nomes como Michael Jordan, Lebron James, Peyton Manning e também os atuais vencedores e ídolos “unânimes” das categorias masculina e feminina da natação nos jogos do Rio 2016, Michael Phelps e Katie Ledecky.
É uma mistura inteligente de investimento público com atração de recursos privados, que, através do marketing, transformam jovens em ídolos do esporte, que posteriormente acabam por incentivar automaticamente outros milhares e milhares de jovens a seguirem o mesmo caminho, como é o caso da nadadora Katie Ledecky, que há alguns anos atrás era apenas uma criança em início de carreira que admirava Michael Phelps, que já ganhava inúmeras competições e batia recordes pelo mundo. Nesta olímpiada do Rio eles alcançaram praticamente o mesmo número de medalhas, ele (Phelps) com cinco ouros e uma prata, ela (Ledecky) com quatro ouros e uma prata.
Por isso, hoje entendo perfeitamente o motivo de tamanha emoção dos atletas brasileiros ao vencerem uma prova ou subirem no pódio.
Não é somente por terem conquistado uma medalha na competição mais importante do mundo do esporte.
Não é somente por superarem atletas de ponta nesta incrível competição.
É também por vencerem a realidade de um país que não acredita e investe em seu próprio potencial.
Eles choram pela vitória das dificuldades e do talento sobre a inconsciência dos governantes do nosso país.

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