Semana Santa, tempo de reflexão
Nesta Semana Santa, período de grande importância para nós, cristãos e cidadãos, é de suma relevância fazermos uma profunda reflexão acerca do real significado desta.
Para alguns, infelizmente, trata-se apenas da oportunidade de usufruir de um feriado prolongado, regado de descanso e gastronomia variada, bem como do consumismo desenfreado, de um comércio que aproveita tal momento para faturar com ovos de chocolate. Mas, na verdade, muito além de uma representação histórica ou celebração religiosa, este é um momento para entendermos que, com a ressureição, Jesus Cristo inaugurou uma nova era, decretando a vitória da vida sobre a morte e direcionando como maior ideal da vida de qualquer indivíduo a libertação.
Entre os muitos aspectos reflexivos possíveis, gostaria de discorrer a respeito de um ponto do ocorrido a Jesus, de acordo com o Evangelho segundo São Lucas, no momento em que Cristo foi levado a Pilatos pela multidão.
Em resumo, após Jesus ter sido apresentado diante de Pilatos, que dizia não achar culpa naquele homem, tendo-o remetido ainda a Herodes, que de forma semelhante procedeu, devolvendo-o a Pilatos, continuava ainda a multidão a clamar pela crucificação de Cristo.
Todas as vezes que ouço a passagem que relata especificamente essa parte do sucedido, confesso que sinto em meu peito uma angústia, rodeada por uma revolta, por perceber que Jesus esteve próximo de ser libertado logo de início, ou apenas castigado e solto, mas não o foi em razão do julgamento irrefreável da multidão, que lhe apontava e clamava por sua morte.
Não obstante a tristeza de tal percepção, reflito ainda que, infelizmente, nos dias atuais, ainda temos uma grande parcela de pessoas que se acha digna de julgamento da vida alheia.
Na verdade, esporadicamente, todos nós estamos sujeitos a cometermos este vergonhoso erro.
Contudo, formamos uma sociedade que é composta por centenas de milhares de irreprimíveis “juízes”, alguns advindos da mesma aspiração da multidão que crucificou o Filho de Deus.
Por motivos religiosos, raciais, culturais, sociais, sexuais, entre outros, alguns acreditam ter o direito de apontar para o próximo e julgar as suas origens, atitudes ou crenças, excluindo-os, acreditando estar coberto por um manto de superioridade em razão de, normalmente, pertencerem a uma espécie de “classe dominante” de algum dos grupos supracitados. Neste ponto, vemos que julgamento e preconceito andam lado a lado.
É algo triste de ser constatado.
Por isso, neste momento pascoal, necessitamos todos participar de uma reflexão intensa acerca do dever de libertação do egoísmo e do individualismo, que corrompe nossas vidas e inverte os valores que Jesus deixou para todos nós.
Que ao invés de promovermos julgamentos sobre a vida dos nossos irmãos, dizendo a terceiros de suas falhas, vícios e carências, ou, ainda, excluindo-os por tais motivos e diferenças, que possamos renovar dentro de nós e propagar os sentidos de solidariedade, fraternidade e justiça social.
Que prevaleça em nossa conduta ética e moral a solicitude pelos pobres, migrantes e excluídos. Que haja entre nós a ascensão da defesa dos direitos humanos, da promoção da saúde e da moradia, da educação em favor da paz, da luta ecológica e da formação político-cristã do povo.