A faxineira

Publicado em 29/01/2016 23:01

Luis Inácio da Silva é um brasileiro que, como outros milhões, tem uma história de vida que começa na miséria de algum rincão do país, de onde sai com a família ainda criança para tentar a sorte em alguma cidade grande. Quanta gente assim você conhece?
Em São Paulo, uma conjugação de fatores começa a transformar Luis Inácio em Lula, um personagem criado por intelectuais e pela imprensa para preencher o imaginário popular em um momento singular da história nacional: o final de um período de governo militar, quando o povo mostrava-se sedento por líderes que estimulassem a esperança por liberdade, por igualdade, por condições para uma vida melhor. O personagem Lula encarnou com perfeição o papel, expondo sua origem humilde, seu jeito errado de falar (que nem era tão errado assim no início, ficou errado depois…), o apelo de “gente do povo”. Sua energia para falar às multidões era imbatível, e a capacidade de jamais entrar em bolas divididas e de adaptar o discurso à qualquer plateia, mais um trabalho incansável da imprensa em apresenta-lo como o herói popular, fez com que Lula se tornasse um dos mais importantes líderes populares da história do Brasil. E por quarenta anos uma legião de seguidores – especialmente na imprensa – bradou a história do “pobre migrante nordestino”que venceu a “preconceituosa elite branca de olhos azuis”.
Mesmo que Lula ao longo do tempo se tornasse um dos mais vistosos exemplos da elite dos que só andam de avião, se hospedam em hotéis de primeira linha e tomam os melhores vinhos, nenhuma acusação ou testemunho que viesse de alguém em nível social mais elevado que o “pobre retirante nordestino” colou nele. Políticos, advogados, jornalistas, juízes, empresários, qualquer um que se atrevesse a criticar o personagem recebia imediatamente o rótulo de “elite ameaçada que não suportava ver pobres andando de avião”.
Lula tornou-se o ícone dos justiceiros sociais.
Nesse contexto, em nome do pobrismo, qualquer fala absurda ou atitude questionável de Lula era relevada. Como uma espécie de “compensação” por sua origem pobre, Lula podia tudo. E assim, presidentes, reis, papas, rainhas, bilionários, acadêmicos e toda uma plêiade de figuras proeminentes viu-se fascinada diante daquela figura icônica, o exemplo acabado de que é possível vencer a partir do nada. Lula se transformou num ícone brasileiro.
Nesse sentido, ele e o Cacique Raoni cumpriram o mesmo papel.
Muito bem. Sempre acompanhei com certa reserva as iniciativas dos que tentaram de alguma forma atingir Lula de forma direta ou indireta. Alguém lembra do “Cansei”, movimento que nasceu entre empresários de São Paulo lá por 2006 como reação aos indícios de corrupção que começavam a pipocar? Foi ridicularizado, pois capitaneado por um bando de coxinhas. O recente pedido de impeachment de Dilma Rousseff assinado por Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr e acolhido pelo Presidente da Câmara Eduardo Cunha também recebeu o rótulo de golpe, revanchismo, vingança pessoal de poderosos. Para mim sempre ficou claro: nada que viesse “de cima” ou até mesmo “de lado” atingiria Lula.
Era preciso vir de baixo.
Ontem o Jornal Nacional transmitiu uma reportagem que talvez seja a mais importante peça para chegar de vez ao coração desse movimento que tomou de assalto o estado brasileiro e que tem em Lula um de seus principais personagens. Pela primeira vez o Brasil viu não um vizinho, mas uma humilde faxineira, um humilde zelador, dizendo que o triplex pertence a Lula. É claro que ambos serão atacados, acusados de terem sido comprados, etc e tal, mas não tem jeito. A casa caiu.
Desta vez quem acusa tem a mesma proteção de Lula, é um humilde brasileiro, representante da única parcela da população da qual “eles” têm medo: o povo.
Quero ver sair dessa.
Se você não assistiu a reportagem, aqui está:
http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2016/01/nova-fase-da-lava-jato-tem-como-alvo-condominio-no-guaruja-sp.html

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