Fale da trave

Publicado em 20/08/2016 00:08

Daniele Hipolyto se apresentou na Olimpíada do Rio, com um desempenho excelente na trave, onde obteve a maior nota da equipe brasileira. Na ginástica solo, ao aterrissar de uma sequência de piruetas, Daniele caiu sentada no chão. Ao se retirar, um jornalista vai entrevista-la e pergunta da queda. E ela, com um sorriso constrangido e sarcástico, se é que isso existe, responde:
– Poxa, e você fala da queda e não fala da trave? Vocês em vez de ressaltarem a coisa boa, falam logo da queda…
E o jornalista responde:
– A gente fala de coisa ruim primeiro para depois falar de coisa boa…
Esse diálogo pode ser visto aqui: http://glo.bo/2aVxUkn
No Brasil, a BRF, empresa criada em 2009 a partir da fusão da Sadia com a Perdigão, lançará em setembro uma linha de frango congelado com o nome do famoso chef inglês Jamie Oliver, que se tornou conhecido por seu ativismo pela alimentação saudável. Seu trabalho revolucionou a alimentação nas escolas da Inglaterra. Em visita ao Brasil o cozinheiro contou que 183 granjas de integrados da BRF foram adaptadas para atender práticas de bem-estar animal defendidas por ele. A empresa investiu R$ 50 milhões nas adaptações para tornar a criação dos frangos mais próxima do ambiente natural e reduziu a densidade de aves nas granjas, além de deixar de utilizar antibióticos na criação dos animais. Tradicionalmente usados na produção de frangos para acelerar o ganho de peso, os antibióticos provocam resistência bacteriana, uma das maiores preocupações de Oliver.
Além disso, a BRF lançou o programa Saber Alimenta, constituído de parcerias com escolas públicas e particulares, para implementação de um conteúdo pedagógico que inclui receitas práticas desenvolvidas pelo próprio Jamie Oliver e adaptadas por ele para o uso de ingredientes mais acessíveis no Brasil. São receitas fáceis de preparar, inclusive em sala de aula, algumas nem requerem fogão. O objetivo é que as crianças sejam protagonistas na mudança dos hábitos alimentares dentro de casa, influenciando no consumo de mais frutas, legumes e verduras e reservando mais tempo para o preparo e consumo dos alimentos.
Vi o vídeo que explica o programa, publicado nas redes sociais, é bem legal: http://bit.ly/2aOLK6u .
Sob o vídeo, no Facebook, muitos comentários elogiando, mas uma quantidade preocupante de gente criticando a iniciativa, dizendo que a Sadia produz alimentos que fazem mal a quem os consome, que essa ação nada mais é que “greenwashing” (quando a empresa cria programas de marketing para construir uma imagem de preocupação com sustentabilidade), que deveriam ter usado um chef brasileiro, que o vídeo só mostra imagens de escolas particulares, etc etc etc. Saí da leitura dos comentários um pouco mais angustiado. Que tempos difíceis vivemos. Parecem aqueles pais que, ao receber as notas do filho, criticam a nota cinco em vez de elogiar as notas oito. Você sabe o que acontece com crianças que recebem esse tipo de tratamento, não?
Veja só, a única questão relevante nessa história deveria ser: o mundo fica MELHOR ou PIOR com essa campanha? Se a BRF não fizer a campanha, quem perde?
Podemos ter duas situações:
A BRF continua produzindo seus produtos;
A BRF continua produzindo seus produtos e investe na campanha Saber Alimenta.
Dá pra entender que, por mais que existam problemas, a segunda situação é melhor que a primeira? E se for incentivada, todos ganham?
Olha, se você é dos que ficam com mimimi contra a campanha, faço uma recomendação: use seu tempo e energia para acessar as mídias sociais da Sadia e escreva lá:
– Parabéns pelo projeto. Como faço para trazer para minha escola, minha cidade?
Ou melhor, faça mais! Acesse as mídias sociais de todas as outras empresas de alimentos que você conhece e escreva lá:
– Vocês deviam fazer como a Sadia, que está bancando a Saber Alimenta.
Em vez de falar da queda, fale da trave.

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