Não passarão.

Publicado em 16/01/2015 23:01

“Acabo de completar 40 (quarenta) horas sem luz. Em Moema, bairro nobre da maior cidade da América do Sul.”
O que o autor da frase quis dizer?
a) que ele é rico pois mora num bairro nobre
b) que bairros nobres têm prioridade sobre os bairros não nobres no atendimento dos serviços públicos
c) que se um bairro nobre está assim, imagine os não nobres
d) que ele paga um baita imposto e não recebe serviços de qualidade
e) que ele está há 40 horas sem luz no bairro
f) que o autor é superior a quem não mora em bairro nobre
Escolha aí a alternativa. Eu espero.
Escolheu? Muito bem. Essa frase publiquei como um post em meu Facebook. No momento em que digitei “bairro nobre”, uma voz apareceu sussurrando: “vai dar merda”. E me peguei hesitando.
Qual a razão de dar merda? A palavra “nobre”, que assim como “rico”ou “elite” está no radar do politicamente correto. Dizer que alguém (e agora algo!) é nobre, rico ou elite é relegar todos os que não são a um patamar inferior, como uma casta de sem direitos que ali são jogados exatamente pelo nobres, ricos e elites para serem explorados, humilhados e descartados.
De onde vem isso?
Desconfio que da mesma França do Charlie Hebdo, onde uma revolução em 1789 consolidou a imagem do rico-elite-nobre como mau e o pobre-miserável-proletário como bom. Depois um alemão barbudo elevou esse conceito a ideologia e… bem, escrever “bairro nobre” em 2015 é pedir pra tomar porrada dos patrulheiros.
Aquele momento de hesitação me fez subir o sangue.
Em seguida li que a CNN e o New York Times anunciaram em editoriais que não permitiriam a reprodução da capa do Charlie Hebdo que traz uma imagem de Maomé, pois ela é ofensiva ao Islã. Mas charges ofensivas sobre católicos, budistas e qualquer outra vertente religiosa cujos seguidores não fuzilam e explodem pessoas, continuarão a ser publicadas.
Para aquela voz que me aconselhou a prudentemente não escrever “bairro nobre”, a definição da Wikipedia “No Brasil e em Portugal, chama-se de bairro nobre a área de uma determinada cidade caracterizada pela presença de uma maioria de moradias de alto custo”, não vale. Intimidada pela patrulha, a voz entende “bairro nobre” como uma arrogante forma de dizer “eu sou rico, você é pobre; eu posso mais, você pode menos; eu valho mais, você vale menos”.
Felizmente a razão voltou e escrevi o “bairro nobre”, sim senhor. Publiquei e os patrulheiros apareceram, evidentemente. O post está aqui: http://on.fb.me/158WfyT .
Guardadas as proporções, da mesma forma como os terroristas fizeram com a CNN e o NYT, os patrulheiros do politicamente correto querem me pautar.
Não passarão.

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