O babaca

Publicado em 16/10/2015 23:10

Seu podcast fede a auto-ajuda, deixo-nos nos com a nossa melancolia e pena de nós mesmos seu babaca que fica dando lição de moral.” Este é o comentário, reproduzido exatamente da forma como foi escrito, que um certo Lucas Vilanova, que não sei quem é, publicou na área de comentários do Podcast Café Brasil.
Como sempre faço, examinei detidamente a crítica à procura de algo que me ajudasse a melhorar o Podcast. Não achei nada que prestasse. E o sujeito voltou à carga em outro Podcast. Apaguei e bloqueei. Não valia a pena gastar meu tempo com ele.
No dia seguinte (na verdade, minutos atrás), terminei uma palestra num grande evento em São Paulo. Palestra de 20 minutos, em condições técnicas complicadas, que me deixou bastante frustrado. Mas encontrei no evento uns cinco assinantes do Café Brasil que me rodearam e ficaram conversando, o que melhorou meu astral. Boto a mochila nas costas e vou saindo, quando sou interceptado por uma garota:
– Luciano Pires?
– Sim.
– Preciso falar uma coisa pra você.
O nome dela é Liziane e, entre embargos na voz e soluços, começou a me contar que cerca de 12 anos atrás chegou em São Paulo, vinda do Maranhão, junto com a mãe. As duas arrumam emprego como empregadas domésticas num casarão em Arujá, na grande São Paulo. Ela conta que o salário era uma miséria, mas que para ela representava tudo. Guardava todo o salário e pela manhã ouvia o Primeiro Programa, na rádio Nova Brasil, do qual eu era colunista. Ela conta que adorava meus comentários e que acabou comprando meu livro Brasileiros Pocotó quando do lançamento em 2004. E o livro e os comentários abriram sua cabeça. Ela passou a usar quase todo o salário para pagar a mensalidade de um curso de administração de empresas numa faculdade em Guarulhos. Impressionado com sua força de vontade, o patrão convidou-a a trabalhar na empresa dele, uma confecção, onde ela fazia de tudo um pouco. E assim foi indo. Fez um MBA em Finanças e agora acabara de abrir sua própria empresa.
– Eu tinha que te dizer isso!
Com os olhos marejados e a voz falhando, Liziane me agradecia pelo bem que fiz à ela, pela motivação e inspiração para sua história de vida.
Dei-lhe um longo e apertado abraço, emocionado, e quase sem poder dizer alguma coisa, a não ser “parabéns”.
A esta altura meu amigo Murilo Gun havia se aproximado e, fascinado, com história, entrevistou-a. Enquanto isso eu me lembrava do comentário do Lucas Vilanova, me chamando de babaca e dizendo que meu programa “fede a auto-ajuda”.
Fui pegar meu carro e permaneci dentro dele por alguns minutos, com os olhos cheios d’água e um nó na garganta, ainda emocionado pela Liziane.
Qual tipo de reação você acha que levo em consideração para orientar meu trabalho? A da Liziane ou a do Lucas?
Quanto vale aquele momento com a Luziane? E aquele com os cinco assinantes do Podcast que me rodearam?
Pois é. Liguei o som do carro e botei pra tocar um CD de Raul Seixas. E ele mandou, na letra de No Fundo do Quintal da Escola:
Não sei onde eu to indo
Mas sei que eu to no meu caminho
Enquanto você me critica, eu to no meu caminho.
Ganhei o dia.

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