O fator Merlin
Quem tem mais de 50 anos certamente foi impactado pela animação A espada Era a Lei, lançada pela Disney em 1963 e baseada num livro de 1938 que contava a história do cavalariço Arthur que, ao tirar uma espada encravada em uma pedra, torna-se o Rei Arthur da Inglaterra. Foi aquela animação que apresentou ao mundo duas personagens adoráveis: o Mago Merlin e a bruxa Madame Min, quem não se lembra? Merlin foi o mentor de Arthur e era muito conhecido por sua habilidade de prever o futuro.
A lenda do rei Arthur é repleta de passagens que permitem tirar lições valiosas. Não aparece naquele desenho animado, mas diz a lenda que o garoto Arthur, meio perdido na floresta, chega por acaso à casa do Mago Merlin onde vai encontra-lo pela primeira vez. Convidado a entrar, Arthur se surpreende ao ver um lugar preparado para ele na mesa.
Reparando na surpresa do garoto, Merlin diz:
– Ah, sim… Como é que eu sabia que você viria? Bem, as pessoas normais nascem vivendo o tempo de trás para frente, sempre avançando. E tudo no mundo funciona assim: sempre seguindo com tempo para frente. Isso faz com que a vida seja mais fácil de ser vivida. Mas desgraçadamente, eu nasci na extremidade errada do tempo, e fui condenado a vive-lo de frente para trás, rodeado de um monte de gente vivendo de trás pra frente…
Veja que metáfora maravilhosa. O que para uma pessoa normal era o futuro, para Merlin era passado. E veio daí o Fator Merlin, nome de um livro de Charles E. Smith que usa a lenda de Arthur para falar de liderança nas organizações. O que o primeiro encontro de Arthur com Merlin nos ensina, e que Charles Smith batizou de Fator Merlin, é a importância da capacidade de analisar o potencial do momento presente a partir da perspectiva de um ponto no futuro. Quando você consegue ter uma visão clara de onde quer estar no futuro, quando consegue visualizar o contexto, as relações, os objetivos, as dificuldades que encontrou para chegar lá, antes de chegar lá, você age como uma espécie de Mago Merlin: olha a vida lá do futuro em direção ao passado e assim antecipa movimentos, escolhas, consequências e cada degrau que precisa ser vencido para chegar até onde você deseja chegar.
Esse é um exercício precioso, ao qual pouca gente se dedica por achar que olhar para o futuro não passa de sonhar. E o que serão sonhos além de bobagens?
Pois é. Eu no entanto, acho que sonhos podem ser das coisas mais sérias em nossas vidas. Um sonho que coloque você numa posição lá no futuro que não seja uma coisa absolutamente inalcançável, pode se tornar algo sério se você tomar algumas pequenas providências. A primeira é colocar uma data nele. Um sonho com data muda de nome, vira meta. E daí dá para fazer um plano de ação. E aquela bobagem chamada sonho, se torna base para um plano que, mesmo inconscientemente, passa a guiar suas ações, a provocar acontecimentos, a fazer com que você experimente a serendipidade.
Serendipidade tem sua origem em “Os três Príncipes de Serendipe” um conto árabe que traz a história de três príncipes que, quando viajavam, faziam por acidente descobertas de coisas agradáveis que não estavam procurando. Tratei disso no podcast Café Brasil 430 http://www.portalcafebrasil.com.br/podcasts/430-serendipidade.
Pois bem. Arhur encontrou Merlin num lance de serendipidade. Eu encontrei o Fator Merlin num lance de serendipidade. Buscando algumas ideias sobre inovação na educação, trombei com o conceito por acaso e ele me abriu uma janela imensa para abordar temas como “propósito”, “visão”, “liderança” e “gestão”.
E aí apresento o conceito aqui para você. Se bobear, ouvirei:
– Pô Luciano, que sorte…
Não foi sorte, foi de propósito. Só que eu não sabia