O princípio de Eisenhower

Publicado em 21/05/2016 00:05

“Se o país está em coma, não entendo a insistência no autoengano de achar que a cultura pode se safar, sadia, do desconserto geral que nos abateu. Na teoria (linda!) a prática é outra (dolorida). Sou a favor da ideia de manter a cultura internada no hospital da educação. Depois da possibilidade de alta vamos ver o que pode ser melhor pra ela e pra todos nós, brasileiros”.
Essa é a atriz Regina Duarte falando sobre o anúncio de fusão do Ministério da Cultura com o da Educação.
Dá pra ouvir a gritaria?
Em 1954 o ex-presidente dos EUA Dwight Eisenhower lançou durante um discurso aquilo que ficou conhecido como o “princípio Eisenhower”, ao dizer que “eu tenho dois tipos de problemas: o urgente e o importante. O urgente não é importante e o importante nunca é urgente.”
O que me vem à mente é a imagem da moça chamada Brasil, em coma, com os médicos, enfermeiros e familiares no maior conflito discutindo em que canal a TV deve ficar ligada… Ou que filme ou peça ela deve assistir.
Deixa eu dar uma pausa aqui pra você poder gritar à vontade.
Pronto.
Um dos princípios básicos da gestão envolve a eficácia na aplicação dos recursos e a eficiência na obtenção dos resultados, e talvez o atributo principal seja a capacidade de aplicar nosso tempo primeiro nas coisas que são importantes e só depois nas que são urgentes. Mas para isso precisamos compreender a diferença entre importante e urgente.
Importante é aquilo que nos leva a atingir nossos objetivos, pessoais ou profissionais.
Urgente é aquilo que precisa de atenção imediata e que normalmente está associado a atingir os objetivos de outras pessoas. Como normalmente essa outra pessoa é o chefe, as consequências de não dar atenção ao urgente o tornam importante. E aí vem a inversão.
Mas quando se define o que é urgente e importante para nós, como indivíduos, não é difícil compreender e gerenciar escolhas. O bicho pega quando precisamos definir o que é urgente e o que é importante para uma sociedade com mais de 200 milhões de habitantes. É aí que os conflitos começam, com cada grupo tentando que seu importante se imponha como urgente sobre o importante dos outros. E o que se vê é o Brasil que conhecemos hoje: focando nas atividades urgentes impostas por minorias barulhentas e não nas importantes para a sociedade sair do coma.
O momento é atípico, de crise. Não dá para passar por ele como se tudo continuasse como sempre. Agora é hora de priorizar as ações importantes E urgentes, depois as importantes não urgentes. Em seguida as não importantes, mas urgentes e só depois as não importantes e não urgentes.
Dê uma olhada nas pautas em discussão na mídia. Veja o que ocupa espaço nas televisões, rádios, portais, jornais e mídias sociais e você encontrará questões como reforma da previdência, identidade de gênero, operação Lava Jato, aborto, caos na saúde, legalização da maconha, ministério da cultura, terras para índios, caos na educação, reforma agrária, taxa de juros, maioridade penal, mudanças na economia, combate à corrupção… Tente separar esses temas em importantes e urgentes para vencer este momento crucial do Brasil. Não tenho dúvidas que você verá como perdemos tempo, dinheiro e energia com discussões que só acontecem por absoluta falta de capacidade de priorização.
E aí aparece uma atriz dizendo algo como ”para tudo e sai do coma!”. Depois da alta a gente trata do resto.
Regina Duarte está usando o Princípio de Eisenhower.
É tão óbvio que dói.
Mas a voz dela não pode ser ouvida. Tem gente demais gritando.

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