Pod… o quê?
A cidade se chama Cáceres, no estado do Mato Grosso. O nome da escola é Centro de Educação Anália Franco. Numa sala de aula com cerca de 40 alunos com idades entre 12 e 15 anos, a professora Milena Campelo distribui o roteiro de um programa, e os estudantes se dividem em duplas. Um tocador de Mp3 ou smartphone com cada dupla, de onde sai um fone de ouvido. Dois canais, cada um num ouvido de um dos jovens, que começam a escutar o programa enquanto acompanham o roteiro. Vinte e cinco minutos depois começam os debates e a redação de textos sobre os temas que eles acabaram de ouvir: política, cidadania, comportamento, paixão, meritocracia e muito mais.
Diz a professora Milena: “Eu já utilizei esse programa em mais ou menos umas cinquenta turmas diferentes do ensino fundamental à graduação. Ele faz muito sucesso e provoca muitos comentários, que é o que eu quero como professora de produção de texto e leitura. Agradeço pela oportunidade de receber um programa desses aqui onde a gente mora, um local tão longe dos grandes centros, e assim poder trabalhar com um conteúdo ao qual, de outra forma, não teríamos acesso.”
O programa que a professora distribuiu para os alunos é um episódio do Podcast Café Brasil, publicado desde 2006 e hoje um dos principais podcasts brasileiros.
No Brasil a maioria das pessoas, ao ser apresentada ao termo “podcast” ainda pergunta “pode o quê?”.
Embora essa mídia exista no Brasil desde 2005, muita gente ainda desconhece o que é e o potencial do podcast como meio de comunicação que aproveita os benefícios das novas (nem tanto!) tecnologias.
Podcasts normalmente são arquivos de áudio distribuídos pela internet, que a pessoa baixa para seus aparelhos para ouvir quando e como quiser. O sistema transfere para o usuário o poder de montar sua programação e ouvir conforme sua disponibilidade. “Podcasts” com “smartphones” fazem uma dupla perfeita, e por essa razão o acesso e uso dessa mídia explodiu nos Estados Unidos nos últimos anos. É questão de tempo para explodir no Brasil também, pois estima-se que teremos no país mais de 70 milhões de smartphones em 2018.
Com a facilidade dos recursos tecnológicos, hoje qualquer pessoa pode produzir um podcast sobre qualquer tema, com qualquer duração. Calcula-se que existam no Brasil hoje mais de 700 podcasts ativos, abrangendo temas que vão de cinema e games a liderança e administração, passando por ciência e literatura e até pela criação de porcos e fórmula 1. Tem para todos os gostos.
Com distribuição gratuita e uma capacidade impressionante de transformar os ouvintes em fãs incondicionais, o podcast recupera a mágica que o rádio tinha nos anos 40, quando os locutores se transformavam em amigos pessoais dos ouvintes e, graças ao baixo custo de produção e praticamente nenhum custo de distribuição, tem se revelado um instrumento fundamental para comunicação nestes tempos de internet.
Mas o exemplo da professora Milena em Cáceres é apenas um, no segmento da educação, que tem um potencial infinito para aproveitamento dessa tecnologia. É quando passamos para o mundo dos negócios, das empresas, que o podcast revela-se um instrumento libertador.
Não é segredo que os custos relacionados às áreas de marketing e comunicação cresceram de forma assustadora nos últimos anos. Qualquer empresa que ainda trabalha com as chamadas “mídias de massa” sabe muito bem quanto custa anunciar num jornal, numa rádio, numa televisão, tentando atingir as grandes audiências. É esse paradigma que os podcasts estão quebrando, primeiro com a comunicação interna.
Imagine uma grande empresa com representantes, filiais, ou mesmo uma franqueadora com lojas espalhadas pelo Brasil. O processo de comunicação sempre foi um problema. Custos de impressão de material, produção de programas, logística e correio tornaram-se proibitivos. Some-se a dificuldade de produção, o tempo longo entre produzir e entregar os materiais, mais a baixa flexibilidade para mudanças e agilidade de atualização e pronto! Temos um problema num mercado que exige rapidez e capacidade de fazer cada vez mais com menos recursos.
Quando surge o podcast, caem as barreiras de custos, de tempo, de geografia. Não importa onde você está, se tiver um celular com acesso à internet, você tem acesso aos podcasts. Junte-se a essa facilidade o surgimento de aplicativos especializados em baixar automaticamente os podcasts pelos quais você se interessa e temos o melhor dos mundos: informação com baixo custo de produção, sem custo de distribuição, de acordo com o interesse do ouvinte, que escolhe quando e como quer ouvir. E se surgir algo novo que precisa ser informado, o tempo de produzir e distribuir pode ser medido em minutos.
O segundo paradigma quebrado é o da audiência. O tempo dos canhões que atiravam para atingir o maior número possível de pessoas, está passando. Hoje quando se fala em audiência, discute-se o tamanho, o engajamento e o valor da audiência.
Tamanho é documento. Mas se antes o tamanho nas mídias de massa significava “com quantos milhões você fala”, nestes novos tempos de internet significa “qual o tamanho de sua audiência proprietária comparada à dos concorrentes”. Audiência proprietária: quantos “assinantes”, quantos “fãs” sua empresa tem? Quantos curtidores no Facebook? No Twitter? No LinkedIn? No Youtube? Quantos ouvintes tem o seu podcast?
Qual é o volume e a qualidade dos dados que você acumulou sobre a sua audiência para ampliar a relevância de suas mensagens? Como sua audiência se engaja à sua marca? Que valor você transfere à sua audiência?
Quando essas perguntas são feitas aos meios tradicionais de comunicação, as respostas são evasivas. Ou então surge uma planilha suspeita que fala de estatísticas. É nesse universo de perguntas que não podem ser respondidas pelos processos tradicionais que o podcast trafega.
O público do podcast é selecionado, extremamente qualificado. E fala com as empresas. Se manifesta, comenta, indica, advoga, defende. Cria um engajamento com o apresentador, com o conteúdo, com as marcas, como nenhum outro processo consegue.
Eu sei. Produzo o Podcast Café Brasil há quase 10 anos e tanto eu como alguns dos patrocinadores que tenho há seis ou sete anos, temos histórias para contar que são impensáveis quando imaginadas nas mídias tradicionais.
Alguém já escreveu para agradecer a você por anunciar no jornal A, no programa B da emissora C ou na revista D? Não? Pois anunciantes de podcasts recebem esse tipo de retorno. Muito. E junto vem um engajamento com a marca que é impossível de ser obtido pela mesma razão custo x benefício dos podcasts.
Podcasts são a mídia do futuro. Se você ainda não ouve nenhum, procure conhecer. Se sua empresa ainda não produz o seu, procure saber quem produz.
O bonde está passando e quem o está pegando primeiro, está tirando vantagem do melhor que a tecnologia pode oferecer.