Quo usque tandem abutere
“Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós? A que extremos se há de precipitar a tua desenfreada audácia?
Nem a guarda do Palatino, nem a ronda noturna da cidade, nem o temor do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado, nem a expressão do voto destas pessoas, nada disto conseguiu perturbar-te?
Não te dás conta que os teus planos foram descobertos?
Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem?
Quem, dentre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, onde estiveste, com quem te encontraste, que decisão tomaste?
Oh tempos, oh costumes!”
Esse foi o cônsul romano Marco Túlio Cícero, em 63 antes de Cristo, dirigindo-se ao nobre Lúcio Sérgio Catilina que, financeiramente quebrado, arquitetava derrubar o governo republicano para obter poder e riqueza. O enfrentamento de Cícero, ao explicitar os planos do adversário, fez com que Catilina se afastasse do senado para armar uma defesa junto a seu exército subversivo. No ano seguinte, Catilina morreu numa batalha.
Esse trecho faz parte das Catilinárias, série de quatro discursos de Cícero, dirigidos ao Senado e ao povo de Roma.
E já se vão quase 2.100 anos.
Repito aqui as palavras de Cícero como uma inspiração para o 5º. Congresso do PT, que foi aberto hoje em Salvador, em meio a um tumulto provocado por conflitos entre manifestantes pró e contra o partido.
Na abertura, Rui Falcão disse as seguintes palavras: “Condenam-nos não por nossos erros, que certamente ocorrem numa organização que reúne milhares de filiados. Perseguem-nos pelas nossas virtudes. Não suportam que o PT, em tão pouco tempo, tenha retirado da miséria extrema 36 milhões de brasileiros e brasileiras. Que nossos governos tenham possibilitado o ingresso de milhares de negros e pobres nas universidades.
Não toleram que, pela quarta vez consecutiva, nosso projeto de País tenha sido vitorioso nas urnas. Primeiro com um operário, rompendo um preconceito ideológico secular; em seguida, com uma mulher, que jogou sua vida contra a ditadura para devolver a democracia ao Brasil. Maus perdedores no jogo democrático, querem fazer do PT bode expiatório da corrupção nacional e de dificuldades passageiras da economia, em um contexto adverso de crise mundial prolongada.”
Traduzindo: eles acreditam que fizeram tudo certo, mas foram vítimas dos maus perdedores, que criaram armadilhas nas quais eles, pobres bem intencionados e indefesos, caíram. Se mal feitos há, a culpa é sua, seu coxinha, que não gosta de pobre.
Então tá. Vou de Cícero:
Quo usque tandem abutere, Rui, patientia nostra?
Até quando, Rui, abusarás da nossa paciência?
O Brasil mudou. A fila andou. A paciência acabou.
Virem o disco.
Ou correm o risco de não ter o 6º. Congresso.