Snap!
Ele tem energia, carisma, sabe falar em público, é bem educado, é letrado, jovem, boa aparência, bem de vida, com uma família linda e parentes influentes na política nacional. E tem planos. Muitos planos. Surge lá no Nordeste e aos poucos vai se tornando uma personalidade nacional, sendo visto, reconhecido e ouvido. Passa a convencer muitas pessoas de que pode ser um agente de mudanças. E um dia chega ao ápice: é entrevistado em cadeia nacional pela mais importante rede de televisão do país, como um dos candidatos à presidência da República. Que orgulho!
Na manhã seguinte parte para cumprir sua agenda de candidato e… Snap!
Assim, num estalar de dedos, tudo termina. Sem retorno, sem saída. Fim.
Um avião moderno e seguro, pilotado por profissionais experientes, cai. Fim. E a gente fica aqui, de boca aberta, sem entender como algo assim pode acontecer. Pior, pode acontecer com qualquer um de nós. Ou com alguém que amamos.
Snap! Fim.
E agora? Os planos, os compromissos, as promessas, as esperanças? Nada. Acabou. Fim.
Eu estava no saguão de um hotel em Lucas do Rio Verde quando uma repórter confirmou a morte de Eduardo Campos e mais 6 pessoas no acidente aéreo. Em pé, em frente à TV, com as duas mãos na cabeça e uma expressão de angústia, espanto, tristeza, assombro, sei lá, enchi os olhos de lágrimas… Como é que pode?
Pode. É ele, o destino, o imponderável, que vive à espreita, não respeita nossas vontades, não obedece nosso controle. Simplesmente aparece quando quer, toma conta da vida da gente, faz suas artes e pronto. Fim.
Não sei como é com você, mas sempre que acontece uma tragédia assim, interrompendo a vida de gente jovem, cheia de planos e energia, dou uma parada para refletir sobre minhas prioridades, sobre tudo aquilo que deixarei para trás se um dia o imponderável aparecer diante de mim. E invariavelmente me lembro de todas as pontas que deixarei soltas. Muitas delas impossíveis de serem amarradas, mas a maioria por simples falta de priorização. Estão lá, soltas, pois tenho coisas mais importantes para fazer…
Se o imponderável surgir, tudo que é prioritário deixará de ser, e as coisas que deixei para trás assumirão o primeiro lugar na fila. E isso me dá uma sensação de egoísmo. Talvez eu esteja, mesmo com toda a boa vontade, pensando demais em mim mesmo, ocupado em sobreviver e ser bem sucedido, de forma ética e responsável.
Será possível aprender algo com uma tragédia dessas?
Me lembrei de um artigo chamado “Freedom from Death”, no qual o professor Sidney J. Parnes propõe, diante da perda de alguém querido, uma parada para reflexão: O que é que eu quero fazer, ter ou conquistar afinal? O que é que eu gostaria que acontecesse? O que eu gostaria de fazer melhor? Para que eu gostaria de ter mais tempo, dinheiro e energia? O que mais eu quero da vida? Quais são meus objetivos não atingidos? O que eu gostaria de organizar melhor? Que mudanças eu preciso fazer? O que eu gostaria que outras pessoas fizessem? Com quem eu gostaria de passar mais tempo? Que mudanças sinto nas atitudes de outras pessoas?
Faça esse exercício, é uma espécie de revisão de prioridades. Pode ser que nada aconteça, mas garanto que você acordará aquela pulguinha atrás da orelha, e talvez se anime a deixar, para as pessoas que você ama, as coisas mais arrumadas caso um dia o imponderável aparecer pra você.
Assim o Snap! pode não ser apenas um melancólico fim.
Mas acabei divagando. Volto ao principal: sigam em paz Eduardo Campos, Alexandre da Silva, Carlos Augusto Leal Filho (Percol), Geraldo da Cunha, Marcos Martins, Pedro Valadares Neto e Marcelo Lira.