Unidos! Jamais seremos vencidos!
Me desculpem. Tentei escrever algo sério mas não deu. Depois de assistir pela televisão aos últimos acontecimentos político-carnavalescos, dormi mal e tive um sonho que quero compartilhar com você. Conforme eu for descrevendo, tente imaginar a cena…
Em meu sonho, os brasileiros resolveram deixar desavenças de lado e recorrer a quem sabe juntar gente para fazer uma gigantesca manifestação contra os desmandos que tomam conta do país. E surgiu a primeira Marcha LGBT-Evangélica Contra a Corrupção!
Usando o poder de mobilização daquela turma, colocamos 6 milhões de pessoas na Avenida Paulista, gritando contra a corrupção!
A ala LGBT se reuniu em frente à antiga boate “The Week” e subiu a Augusta. Eram 23 trios-elétricos tendo à frente Fernando Haddad e Marta Suplicy com o grito de guerra:
– Relaxa! E goza!
O grupo LGBT entrou na Paulista e seguiu em direção ao Parque Trianon, enquanto o grupo evangélico veio lá das bandas do Jabaquara. Eram outros tantos trios elétricos entoando hinos. À frente, a coligação Bispo Edir Macedo-Apóstolo Valdemiro Santiago com o grito de guerra:
– Em nome! Do Senhor!
E então os dois grupos se encontraram em frente ao Masp. Sob os olhares desconfiados dos evangélicos, a turma colorida entrou em êxtase aos primeiros acordes de “I will survive”, em versão gospel. E a Paulista explodiu aos gritos de:
– Bibas! Unidas! Jamais serão vencidas! Em nome do Senhor!
Os líderes dos dois grupos se revezavam em discursos inflamados:
– Corrupção, que nojo! – gritou Isabelita dos Patins.
– Contra a corrupção! Deposite o seu, por favor, por favor! – exorcizou Marco Feliciano.
Seis milhões de brasileiros, brasileiras e derivados unidos contra a corrupção! Mas a coisa esquentou mesmo quando uma biba reconheceu um bofe na turma de lá.
– O quêêê? Fazendo o quê desse lado, querida?
– Pastor, que é issoooo?
– Ah, sei lá. Sai desse corpo, Satanás! Ele não te pertence!
– Ai… Pertence sim. Comprei tudinho, ó…
Um pote de purpurina é arremessado na testa do pastor quando o sistema de som anuncia a chegada do ex-senador Eduardo Suplicy para cantar “Blow in the wind”.
– Senador, não é “Blowing”?
– É. Mas fiz uma adaptação. Marta, querida! Como vai você?
– Ah, Eduardo, por enquanto tô relaxando.
E então os presentes assinaram a “Carta do Trianon”. Um documento LGBT-Evangélico pedindo o fim da corrupção, a prisão dos corruptos e a limpeza ética no Senado. Com seis milhões de assinaturas, o manifesto não passaria em branco pelo Congresso. Pelas mãos do deputado Jean Wyllys, uma caravana com representantes dos dois grupos foi para Brasília entregar o documento em mãos para o presidente do Senado.
E foi então que aconteceu…
Na Praça dos Três Poderes a caravana LGBT-Evangélica encontra outra caravana, do MST. Bíblias, purpurina, lantejoulas, enxadas, foices, bonés vermelhos e um empurra-empurra daqueles.
– Que é isso, tchê? – disse o Stédile.
– Volta pro mar, oferenda! – exclamou a biba-mor.
– O sangue do Senhor tem poder! – bradou o pastor.
No plenário, um senador cabeludo interrompe o inflamado discurso de Fernando Collor sobre Ética Aplicada e anuncia:
– Excelências, tem um grupo de lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, simpatizantes, evangélicos e sem-terra aí pra falar com a gente!
Todos olham imediatamente para Renan Calheiros. E o honrado Senador, com os olhos arregalados e fazendo biquinho diz:
– Abisolutamente!
Foi aí que eu acordei.