A OPÇÃO DE NÃO ENVELHECER
Nossa vida é feita de opções. Temos o livre arbítrio de fazer nossas escolhas de acordo com os valores que herdamos ou adquirimos ao longo da nossa existência. E são essas escolhas que nos fazem felizes, tristes, sadios ou doentes, velhos ou jovens…
“Tia Filhinha” fez suas opções conscientemente e os anos passaram por ela sem que nada lhe desviasse do desejo de ser uma jovem alegre, e, agora,com quase noventa anos, uma senhora divertida, bem humorada e generosa. Foi rica um dia. Daquele tipo raro de abastado, que deseja que todos que estão ao seu lado possam usufruir de tudo que pode proporcionar.
Se alguém do círculo de amigos se encontrava em dificuldades, lá estava ela emprestando um dinheirinho, pagando um jantar, levando junto em alguma de suas viagens.
“Filhinha” (batizada Filomena) é assim! E as pessoas se sentem bem ao seu lado, não pelo seu dinheiro e o que ele pudesse proporcionar, mas pela sua amizade verdadeira e a sua alegria de viver contagiante.
Porém, adversidades acontecem, e, ao chegar aos oitenta e tantos anos, sua vida financeira já não é um mar de rosas. Quando se chega a essa idade, muitos amigos já morreram, os filhos têm suas próprias preocupações e a solidão chega de forma implacável…
Com “Filhinha” foi diferente. Ficou viúva, e pobre. Mas nada disso abalou sua alegria e a vontade de viver intensamente e, principalmente, de ser feliz. Sua companhia divertida faz com hoje os amigos levem-na em suas viagens.
O fato de não ter dinheiro não a impede de continuar ajudando a quem precisa, com seus favores e cuidados. E em sua sala de estar há sempre alguém, velho ou moço, procurando por sua ajuda, que nunca falha.
Um sobrinho que ela ajudara quando jovem, grato, dava-lhe uma mesada para suas despesas extras. Até que um dia desses, o rapaz faleceu. E lá se foi “Filinha” vestir o defunto, prestar as últimas homenagens e prantear o falecido, como “manda o figurino”. Mas tudo isso foi feito com a boa disposição e a alegria de sempre, apesar dos pesares.
Durante o velório, questionada sobre a saudade que sentiria do sobrinho querido, ela, já acostumada com as visitas da “Morte” e suas tristezas, não se fez de hipócrita: “-Pois é… Vou sentir falta do Zé, sim! Mas o que vai me fazer mais falta mesmo é o dinheirinho que ele me dava todo mês”…
A velha senhora nunca nega ajuda. Outro dia, a filha gritou por socorro. Não tinha com quem deixar os filhos para poder realizar uma viagem de negócios. ”Filinha” não titubeou. Encarou quatro ônibus para chegar à casa da filha, quase cem quilômetros distantes da sua, no subúrbio. Lá chegando, esbaforida e sentindo o peso da idade, jogou-se na primeira cadeira que encontrou. Imediatamente um dos netos, preocupado com a saúde da velha depois de tanto sacrifício, aproximou-se com um copo d’água. A velhinha, cansada, mas sorridente, comenta de imediato: “- Água eu já tomei, menino! Mas não matou minha sede. Me arranja uma cerveja rapidinho antes que eu tenha um infarto…