A RESSACA MORAL DE CADA DIA

Publicado em 12/11/2016 00:11

“Quem fala o que quer, ouve o que não quer…” Ou às vezes até não ouve nada da pessoa para quem falou, mas ouve da sua própria consciência, do que tem ou lhe resta de ética e comportamento socialmente correto. E aí vem a bendita ressaca moral…
Independentemente de termos bebido ou não, muitas vezes, palavras e comportamentos inconvenientes ficam martelando a nossa mente, causando um mal estar, que chega a ser fisiológico. Mas, depois de feito ou falado, não dá pra voltar atrás. É igual àquele tombo que você levou no meio da festa porque perdeu o equilíbrio por excesso de álcool. Não dá pra fingir que não caiu, tem que levantar, sacudir a poeira e sair com “cara de paisagem”, fingindo que não “tá nem aí”…
Pelo menos quando o indivíduo exagera na bebida, ele tem um atenuante. Estava fora de si, não sabia o que estava falando. Mas, quando estamos de “cara limpa”, em plena posse de nossas faculdades mentais e falamos o que não queríamos, ou melhor, na maioria das vezes, queríamos, sim, mas eticamente não devíamos, aí, a consciência do nosso ser social, que rege nossos valores éticos, fala mais alto.
É claro que, como todo ser humano, temos nossas defesas contra a dor e o sofrimento. Contra o constrangimento em uma situação em que falamos para alguém algo que não devíamos, temos o consolo de pensar: – “Ah! Mas ele merecia ouvir… Alguém precisava dizer aquilo pra ele!” E a verdade é que a pessoa queria realmente dizer o que disse, estava entalado, e, na maioria das vezes, o outro precisava ouvir o que foi dito. Mas tinha que ser você a dizer?
A mesma coisa acontece quando numa discussão os ânimos se exaltam e perdemos o equilíbrio. Falamos coisas que ferem o outro, que trazem graves consequências e geralmente posteriormente vem o arrependimento. Mas no fundo, no fundo, é o que estamos pensando ou sentindo, e querer voltar atrás, dificilmente funciona. Se alguém diz pra você, por exemplo, que quer dar um tempo na relação, é porque pensa, de verdade, que não dá mais pra segurar a barra de continuar ao seu lado. E não se iluda se depois a pessoa vier com aquela conversa de que “estava nervosa e não sabia o que estava dizendo. Que foi num momento de raiva!”
Acontece que, no calor de uma discussão, num momento de raiva, perdemos a chave da porta que tranca o compartimento secreto onde escondemos nossas emoções (muitas vezes de nós mesmos), e quando elas vêem à tona… Explode coração!!!
E quem disse que “palavras o vento leva”, mentiu. Passam séculos e a gente não esquece. Logo, deve-se estar atento aos sinais, às palavras ditas de cabeça quente.
Se o homem ou mulher diz que precisa se dedicar mais a outra atividade, que precisa de mais espaço, comece a refletir no que está errado, ou já deu errado e não tem mais volta.
Se você está sentindo complexo de culpa pelo que falou o que não devia, tentar consertar, muitas vezes, é pior. A emenda sai pior do que o soneto…
Pensar de maneira altruísta também pode funcionar. Afinal, você fez um bem para o indivíduo, sendo autêntico e dizendo o que pensa. Pode funcionar para você! As pessoas geralmente não querem ouvir o que você pensa delas. Querem ouvir, sim, o que elas pensam que são e gostariam que acreditássemos.
Falar a verdade e ser autêntico, dependendo da maturidade intelectual da outra pessoa, além de provocar uma tremenda ressaca moral (que não passa com chá de boldo), ainda faz com que você perca o amigo.

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