CARNAVAL & REALIDADE

Publicado em 22/03/2014 04:03

Devo confessar que para mim um dos melhores lugares para aproveitar o Carnaval é o Rio de Janeiro. É uma época na qual, quem não tem pique ou não gosta de folia, pode sempre encontrar um lugar tranquilo para bater papo e se deliciar nas águas do mar comendo um peixinho frito na hora.
Em compensação, para aqueles que querem se acabar literalmente nos braços de Momo, não falta espaço nos blocos de rua, que, a cada ano, se tornam mais populares e criativos. Os nomes são os mais variados e, quase sempre com picardia, têm duplo sentido.
Os foliões verdadeiros entregam-se de corpo e alma à folia das ruas no calor de quase 50 graus e em meio a milhares de pessoas suadas e enlouquecidas.
As fantasias dos participantes não seguem uma regra e, quanto aos participantes, nem sempre no “cachorro cansado” você vai encontrar velhos se arrastando. Eles ficam sentados numa esquina, tomando sua cervejinha, e, quando o bloco passa, os velhinhos com seus 80 e tantos anos levantam-se e se acabam por uns dez minutos. Depois, sentam-se para recuperar o fôlego até o próximo bloco passar.
Enquanto isso, os jovens pulam do Vem cá me dá para encontrar mais na frente o Bloco do chifrudo – disfarça e entra, Que merda é essa com sua versão infantil Que cáca é essa ou mostrar o samba no pé com o já tradicional Simpatia é quase amor.
Quando a gente pensa que acabou, em outro canto da cidade o Senta que eu empurro arrasta milhares de pessoas que acabaram de brincar no Só o Cume Interessa e assim vão passando de um bairro pro outro passando pelo Balança meu “Catete” ou Vai Tomar no “Grajaú”. “Largo do Machado, mas não largo da cachaça” acaba se esbarrando com o “Concentra, mas não sai”, e dá uma coisa só.
A lista não para por aí. São centenas de foliões que se agrupam para reviver os antigos carnavais de rua.
O carioca afirma que não quer trios elétricos em seus blocos, como no Carnaval da Bahia, e, sim, músicos no chão alimentando a alegria dos fanfarrões. Quem quiser carros enormes que vá pra Sapucaí assistir o desfile como fazem os turistas (o que também é um programa inesquecível).
Mas o bom mesmo é pular de um bloco pra outro e durante três dias, esquecer a dura realidade do país e do mundo. Mudar de roupa, mudar de estilo, sair do armário, fantasiar. Usar a criatividade para imaginar que aqueles dias são feitos apenas para folias e brincadeiras até a quarta-feira.
Dias em que, apesar de alguns incidentes, as ruas e praças são do povo, e esse povo esquecido quer ser feliz deixando as manifestações contra políticos e governos pra depois do Carnaval.
Vão reclamar o ano inteiro, costurando a fantasia da escola ou se reunindo para combinar quem vai tocar a cuíca na bateria quando chegar o outro Carnaval.

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