Coisa de “amigo”
Se não fossem os amigos, não teríamos histórias pra contar. A não ser os micos que a gente paga, as fofocas que nos contam e as desgraças da mídia. Tudo bem que existem certos amigos que, além das histórias aprontam cada uma com a gente que em muitas ocasiões dá vontade de chamar um inimigo.
Foi com esta vontade que minha Soraia estava no dia em que desabafou na roda o que seu amigo Fábio aprontou. Como Soraia viaja sempre e tem um cachorro e uma casa cercada de plantas, depara-se frequentemente com dois problemas. O primeiro ela resolve mais ou menos fácil: Leva o pet com ela e deixa o marido em casa já que o carro deles só tem lugar para duas pessoas e, se tem que escolher entre o bicho de estimação e o marido, adivinha quem minha amiga escolhe?
Sobra o problema das múltiplas e não menos queridas plantas. Sabendo que o marido chega tarde e cansado do trabalho, logo não vai lembrar nunca de molhar as plantas, Soraia lembrou do amigo e também do vizinho Fábio. Afinal, Fábio é aposentado, não faz nada o dia inteiro a não ser pegar o jornal na calçada pela manhã e comprar pão no fim da tarde e só entregá-lo à esposa lá pelas dez da noite, pois padaria é o local certo para colocar o papo em dia.
Desta forma, pensou Soraia, ele não precisa sair de casa só para molhar as plantas, pois as mesmas carecem de água pela manhã ou no final da tarde para que permaneçam viçosas. Até eu sei disso!
Na véspera de partir, Soraia fez um churrasco para entregar oficialmente as chaves ao Fábio. Mostrou a área externa toda, deu detalhes sobre os lugares da mangueira e da torneira partindo na manhã seguinte com a certeza de que suas plantas estavam em boas mãos.
Ao voltar para casa duas semanas depois, Soraia não poderia ficar mais satisfeita ao ver suas plantas verdinhas e floridas. Alguns dias depois convidou o casal para um jantar de agradecimento e esmerou-se nas iguarias oferecidas ao seu mais novo jardineiro que, sendo pessoa de casa, entrou pelo jardim dos fundos e começou a elogiar o lindo barco estacionado na garagem do casal amigo.
Estava realmente surpreso e o barco é realmente bonito e grande chamando a atenção de quem depara com ele na passagem da garagem e do jardim. Mais surpresa ainda ficou Soraia com o espanto de Fábio, pois o barco havia chegado a casa na mesma manhã em que ela viajou, ou seja, já estava lá há duas semanas. Como pode o Fábio não ter visto o barco? Tinha que quase passar por cima dele para molhar as plantas! Como ele não viu o elefante no jardim e as plantas estavam tão bonitas? Simples: Ele não lembrou nem um dia de ir à casa de Soraia fazer o favor tão comemorado, mas, sua esposa Helena, conhecendo a mercadoria que tem em casa, antes de sair pra trabalhar dava uma passadinha lá e molhava tudo.
O Jantar foi à francesa e o prato do Fábio foi regado por Soraia com umas colheradas extras de pimenta que ela havia trazido da viagem.