FAZER A DOR DE VIVER PARAR
É difícil falar da morte. Principalmente quando a morte se torna uma opção de vida para algumas pessoas, e isso acontece desde sempre na história da humanidade e ainda assim evitamos tocar no assunto como se fosse (e para muitos é) uma coisa negra e pesada que não deva ser discutida.
Até mesmo em velórios falar sobre o tema pelo qual todos estão ali é evitado, dando lugar atualmente a assuntos alegres e até mesmo piadas que substituem o antigo choro remunerado das carpideiras.
Quando se trata de suicídio então, vira um tabu e faz-se o silêncio ligado à perplexidade e à incapacidade de evitar a estigmatização.
A verdade é que interiormente a opção de morrer gera julgamentos sobre sentimentos e atitudes que também nos pertencem, como nossas impotências e covardias diante das dificuldades da vida, além da culpa, essa eterna companheira do ser humano. Quem nunca pensou em momento de muito sofrimento que mais fácil seria acabar com tudo?
Fingir que uma situação não existe ou não falar sobre ela não faz com que a mesma deixe de existir. A cada dia 32 brasileiros se matam e ao fim deste ano mais de 11.000 terão desistido de continuar lutando contra seus medos e dores segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde –. Não falar ou discutir sobre isso só dificulta nossa possibilidade de mudar esta realidade. É como não falar sobre o câncer, HIV e outras doenças sempre consideradas tabus.
Se o comportamento da sociedade fosse outro, nove entre 10 pessoas ainda estariam vivas. Como prevenir sem discutir, falar sobre o assunto? Pessoas que optam por tirar a própria vida são um fato que deve ser discutido livremente em todos as famílias, escolas, igrejas e empresas. Sem medo, sem vergonha, sem culpa. Não há que se ter medo de falar da morte por mais que ela nos cause dor.
Perder um ente querido pelo suicídio não é natural, mas falar sobre isso deve passar a ser para que nos conscientizemos e o assunto deixe de ser proibido e passe a ser tão preventivo quanto falar sobre nossos medos, fraquezas e desatinos. Essa atitude limítrofe não é a de um fracassado, mas de alguém que não conseguiu vencer suas dores e nós, como seres humanos mais evoluídos nesse século, temos a obrigação de apoiar, discutir, sofrer junto, porém sem culpa, mas com a certeza de que podemos fazer alguma coisa a partir do momento que superamos o medo de falar daquilo que dói e é tão difícil de enfrentar sem a ajuda de outras pessoas.
Muitas pessoas me acharão inconveniente ou fria por escrever sobre isso justamente essa semana, mas sempre fui e serei a favor de considerar que a palavra travada em nossa garganta não nos leva a lugar algum.