Inútil dormir que a dor não passa
Ainda bem que não estou aqui para dar conselhos. Mas, segundo o poeta, esse é um “Bom conselho”. mas não um “Conselho Bom”. Ainda ouvindo Chico, tem dias que a gente se sente assim, como quem já morreu, ou talvez a última pessoa do mundo para dar um conselho, uma opinião, principalmente sobre a nossa vida.
Ás vezes a gente se cansa de esperar, cansa de fingir que um dia tudo vai dar certo, que a pessoa que a gente ama não vai nunca mais pedir perdão, nem voltar. Simplesmente porque nunca mais vai magoar nem partir. E continuamos assim, seguindo o exemplo das “Mulheres de Atenas”, quando deveríamos mirarmo-nos em seus exemplos e parar de fingir que estamos tecendo nossos tapetes como Penélope, pacificamente esperando que volte para os nossos braços o homem que um dia partiu de nossos sonhos sonhados de olhos bem abertos.
Aquelas mulheres nos advertiram um dia que apesar de enaltecerem seus homens, na verdade não passavam eles de amantes toscos, maridos ausentes, como a grande maioria dos nossos grosseiros e agressivos mal amantes companheiros contemporâneos.
Penélope não acabava nunca de tecer seu tapete, esperando que seu homem voltasse, e enquanto isso recusava, fiel e digna, outras propostas para ser feliz, e durante esse tempo, seu homem se deixava arrastar pelos cantos das sereias em alto mar.
Hoje, tecemos nosso tapete feito de outros teares. Tecemos expectativas em novas profissões, novas aquisições, livros de autoajuda, viagens, joias caras, o conquistado, mas não realizado feminismo…
Tudo para esquecer que nossos homens continuam machistas, continuam procurando prostitutas, aventuras, cativos de ninfetas-sereias, irresponsáveis e infiéis.
O tapete de hoje, são os filhos que devemos educar. A responsabilidade que a sociedade nos delega e a dignidade que algumas mulheres insistem em tecer em nome da família que construíram, não importa quantas lágrimas derramem, não importa quantos navios não voltem… Elas continuam esperando e acreditando que um dia vão ser felizes…
Se há dias em que estou assim, ciente da impotência do sono frente à tristeza e à dor, não é só por mim ou não é também por mim. Dói-me mais a dor do meu sexo, ainda crente, ainda impotente. Eu, eu decidi há muito tempo jogar fora meu tapete. Não esperar mais nada do mar, mirar-me naquelas “Mulheres de Atenas” e não acreditar nos conselhos que um dia me deram de graça.