TE PERDOO POR TE TRAIR…
Que sem o meu e sem o seu perdão não sobreviveríamos nós nem os nossos laços. Que foi com seus erros e seus descaminhos que consegui encontrar os meus caminhos e descobrir que separados, os mesmos não passam de paralelas infinitas que não nos levam a lugar algum. E, no entanto, temos viajado estradas manchadas e retintas daquilo que no passado chamamos de erros. Quanto engano…
Perdoo as minhas mentiras, que elas foram ditas em consequência das suas e aprendidas em momentos desesperados e cínicos, cheios de luxúria e tesão. Guardei pra você as verdades. E também pelas verdades que falei me perdôo, mas me arrependo. Descobri que quando se ama nem todas as verdades devem ser ditas, nem todas as perguntas, respondidas. Aprendi isso com você!
Me arrependo das vezes que não fui embora pra nunca mais! De mãos dadas com outro alguém, apaixonada e perdida. Perdida pra sempre, de mim e de nós. Me arrependo das vezes que não amei mais … Que não chorei mais, a dor do que perdi, porque lhe perdoei.
Perdoo minhas falsas juras, meus olhares cansados de percorrer seu corpo deveras conhecido, minha boca seca por outros desejos camuflados e despertados pelo ódio que senti de você, por suas deslealdades… Até isso eu perdoo.
Sufoquei tantas risadas querendo escapar soltas pela minha garganta, antes apertada por repressões e medos, e hoje liberta, graças a você. Bendito seja! Benditos sejam seus erros, benditas sejam suas horas perdidas ou ganhas em outras camas com outras pernas, em lençóis impuros e lascivos, carregados de culpa, outros gozos e promessas. Deles nasceram meus prazeres verdadeiros. Com eles aprendi a ser feliz com meus erros. Bendita a tua culpa que me redimiu e me abençoou.
Quantas vezes quis correr para os seus braços, e eles, ocupados, me fizeram seguir em outra direção. Foram seus braços ocupados e seu olhar distraído que me ensinaram o quanto eu podia ser feliz dentro de outros olhos, arrastada nas tempestades de outros abraços. Por esses motivos aprendi a nos perdoar…
Azar de quem se culpa e se entrega ao sofrimento de um amor bandido, de amarras e promessas vãs. Azar de quem derrama lágrima após lágrima e cospe praga após praga, na cama, no copo, no corpo alheio, geralmente amigo, quase nunca amante!
Quantas perguntas você fez, quantas não respondi, porque não carecia e não merecíamos, nem eu, nem você. Assim, aprendi a fingir ser feliz, a entender como amar, como bastar ao outro. Por isso me perdoo e vejo com outros olhos esses caminhos cruzados em tantas esquinas, nossos caminhos…
Não morrerei mais de paixões! Só viverei delas, entranhadas em mim. Que, graças a você, isso me é possível sem sofrimento nem culpa. Viverei mais de mentiras que hoje sei da necessidade delas na vida de quem não aprendeu a lidar com a verdade. A verdade que eu descubro nos olhos de quem eu perdôo, por vontade ou por paixão, por amor ou teimosia, me perdoo por perdoar você.