Trinta anos depois
Assim se passaram 30 anos. Não parece que foi ontem. Parece mesmo que foi há muito tempo que cheguei aqui vinda de uma cidade enorme, turbulenta e cheia de violência. Eis que chego numa cidadezinha pacata, simpática, com um povo acolhedor (apesar de paulista), com ruas e praças super bem cuidadas, tudo ao contrário de onde eu vim.
Lidando com educação, fazer amizades foi tranquilo. Com amigos jovens e seus pais a vida aqui foi bem mais fácil de se adaptar socialmente. Só não consegui esquecer o mar e as montanhas do Rio de Janeiro.
Durante 20 anos só fiz trabalhar, e cada folga que aparecia era pra voltar correndo pra terrinha e para os amigos que lá deixei.
Depois vieram momentos difíceis em que a saúde me deu uma rasteira e a vida financeira também complicou. Casaram-se os filhos, nasceram os netos paulistinhas, tive que puxar o freio de mão no trabalho até quase parar em função dos problemas de saúde. Diminuí também minhas viagens ao Rio por falta de dinheiro e a saúde um pouco escassa que me impedia sassaricar de lá pra cá como antes.
Comecei a escrever e não parei mais. Passei a observar mais a vida das pessoas e a minha própria. Outras pessoas passaram a fazer parte da minha vida, sofri desilusões como todo mundo, encarei os problemas como uma leoa, mas ficar longe das minhas meninas eu não dei conta. Estou voltando pra terrinha e para os amigos do lado de lá.
É claro que vou sentir falta dessa vida e dessas pessoas que me apoiaram quando precisei, daquelas que me amam de verdade e eu sei quais são. Nunca me iludi com algumas delas. Sabia que mais cedo ou mais tarde Deus as tiraria do meu caminho para que eu fosse mais feliz. Lamento partir e deixar a cidade menos bonita do que quando cheguei. Coisas de política ou talvez falta de políticos.
Acredito, no entanto, que nas próximas eleições o povo tenha amadurecido tanto quanto eu, não acreditando mais em hipócritas e corruptos e, assim, conseguindo transformar a cidade, apesar da crise nacional e mundial.
Vou continuar acompanhando tudo de perto, pela rede. Vou continuar escrevendo para os órgãos da imprensa que escrevo, inclusive o meu blog. Agora, porém, acho que serei mais ousada, pois não correrei o perigo de levar bronca das minhas leitoras severas com mais de 90 anos. Vou mais fundo nas ideias e nas opiniões, a não ser que o diretor me censure.