VERDADEIRA DEMOCRACIA

Publicado em 19/11/2016 00:11

A cada dia que passa, mais eu tenho a absoluta certeza de que não existe lugar tão democrático quanto a areia da praia. Eu fico tentando imaginar outro espaço onde a gente possa ser único, individual, e, ao mesmo tempo, ser parte do povo de maneira tão eclética.
Não é novidade para quem se banha com frequência ou não nas águas do mar, que todas as praias têm seus “points”, que abrigam todas as tribos, com a única condição de que você queira fazer parte dela.
Você não precisa pertencer àquela tribo, basta querer aderir, sem necessariamente comungar das mesmas ideias e posições, apenas conhecer novas pessoas, ouvir aqui, aprender ali…Ser mais um no grupo, seja por um dia ou pelo resto da vida, com direito a amizade verdadeira e tudo.
A tribo à qual me integrei depois de estar fora do Rio por tanto tempo tem suas características, como todas as outras tribos do litoral carioca. A idade varia dos trinta aos sessenta anos. Alguns têm filhos ainda adolescentes, que só chegam depois do meio dia, sentam na areia e participam de igual para igual da conversa fiada ou da conversa séria.
A maioria já tem netos e como sempre sobra neto para os avós tomarem conta, tem sempre alguém gritando para algum moleque sair do fundo porque “hoje tem correnteza” e “o mar não está pra peixe”! O bom é que todo mundo ajuda todo mundo. Tem “aquela” do grupo que sempre traz um petisco diferente para a rapaziada salgar a cerveja. Existe aquela que se acha a gostosona do pedaço, desfila chapéus e biquínis de grife e ninguém repara.
“Há os homens, geralmente os sessentões, que saem no final do dia com torcicolo, de tanto olhar bundas e mais bundas passarem, tecerem disfarçadamente seus comentários maliciosos, mas ficando sempre na “saudade”…Eles garantem, que, se elas toparem, eles dão conta. Podem até dar, dependendo da cor de seus cartões de crédito.
Essa turma se reúne sempre no mesmo local, onde um afro brasileiro de codinome “Alemão” há muitos anos atende com maestria os pedidos de cerveja, caipirinha e peixinho frito. Nos juntávamos (até o tri campeonato do Fluminense), em volta de uma bandeira enoooooooooooooorme, de um tricolor fanático, mas boa gente…Agora são três bandeiras! Todas fincadas na areia, demarcando um território que não existe. Convivemos pacificamente, flamenguistas, vascaínos, botafoguenses, e quem mais quiser se chegar…
Considerada a “rainha do mico”, por aqueles que comigo convivem, não poderia passar pelo espaço democrático em questão, sem deixar meu rastro!
Estava eu, certa vez, serelepe e tranquila, curtindo o sol a cevada e a água salgada, quando reparei que, sentado na minha frente, havia um coroa bonitão, charmoso, e que não me parecia estranho…
Deixando a minha conhecida timidez de lado, virei prá ele e disse: “Caraaaaaaaaaaaaaaaaca!!! Como você é parecido com o Luxemburgo! E ele sorriu, retrucando minha observação, com todo o seu charme e profissionalismo: “É porque eu sou o Luxemburgo…
Pronto! Virei a “bola da vez” da turma, com todos pegando no meu pé. Mas o pior de tudo é que eu não conseguia me lembrar, de jeito nenhum, em qual time ele atuava como técnico, apesar de eu ser flamenguista e ele ser o técnico do time na ocasião.
Depois de algum tempo, pela conversa, deduzi que se tratava da velha, ousada e sempre cantada democracia da areia da praia o motivo dele estar ali no território do Fluminenese.

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