Médico da Santa Casa explica as diferenças entre os tipos de aborto e suas peculiaridades
Mais de 20 pacientes do SUS fizeram curetagem por abortamento em Santa Fé no ano passado
Por Lucas Machado
O aborto é a interrupção de uma gravidez, e ainda, é uma questão muito discutida por muitos na sociedade. É sabido que o aborto pode ser espontâneo ou induzido, entretanto, o artigo 124 do Código Penal prevê a prisão de um a três anos para quem aborta propositalmente.
Estatísticas apontam que são realizados cerca de 46 milhões de abortos anualmente em todo o mundo, aproximadamente 160 mil por dia. Entre esses, a OMS, Organização Mundial da Saúde, estima que 19 milhões são feitos de maneira clandestina e insegura, resultando na morte de 70 mil mulheres por ano, e mais cinco milhões que enfrentam sequelas do procedimento mal realizado.
Dados da última Pesquisa Nacional da Saúde, feita pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – apontam que, no Brasil, em 2013, 7.621 mulheres de 18 a 49 anos já tiveram algum aborto espontâneo. Deste número 1.485 são de São Paulo.
Ainda no Brasil, em 2013, de acordo com a pesquisa, 1.068 mulheres de 18 a 49 anos de idade já tiveram algum aborto provocado, sendo que 412 foram apenas na região Sudeste do País.
A reportagem de O Jornal foi informada pelo médico Luis César Rodrigues de que é difícil saber a quantidade de abortos provocados na cidade, visto que, geralmente, estes são difíceis de ser comprovados, e muitas vezes não há a denúncia.
Dados da Santa Casa de Misericórdia de Santa Fé do Sul apontam que em 2015 foram realizadas 148 internações de pacientes com quadro de ameaça de abortamento entre SUS e convênios. Segundo o médico Luis César, “destas, 23 pacientes do SUS fizeram curetagem por abortamento. Não temos dados de particulares e convênios que fizeram curetagem, e não tem como quantificar se foram provocados ou não”.
O médico explicou que o aborto espontâneo pode ocorrer até a vigésima semana de gestação. “O feto é um ser estranho para a mãe, e o organismo, para protegê-la, cria um sistema de defesa e faz com que ela fique sujeita a infecções, o que pode provocar o abortamento. O organismo também elimina de forma natural, quando há má formação do feto, quando existir incompatibilidade com a vida do bebê. Quando a paciente é detectada com infecções logo no início, conseguimos salvar a criança se o abortamento for inevitável”.
Ele disse ainda que, geralmente, os abortamentos provocados de forma ilegal acontecem por rejeição da mãe, ou quando a mesma passa por problemas sociais, procurando, assim, métodos para eliminar o feto. “Muitas vezes utiliza comprimido, tomam remédios na veia, chás para provocar o sangramento e eliminar o feto, e, por ocasionar esse óbito, cabe punição”, explicou.
Luis César contou que existem umas prerrogativas na Justiça que permitem o abortamento ou seja, quando há estupro de vulnerável, ou quando há a má formação, e nestes casos, o procedimento é feito em espaço hospitalar.
“A grande porcentagem de mulheres que abortam ilegalmente são pacientes jovens, que tiveram a vida sexual muito precocemente, não têm vínculo familiar e sentem que, de repente, aquele momento não é o momento adequado para se ter um filho. É quando estas acabam procurando métodos de uma forma errada. A paciente corre grande risco, pode ter sangramento abundante e colocar em risco a própria vida. Existem casos em que precisamos extrair o útero para proteger a paciente de infecções e hemorragias. É extremamente importante que alertemos as pacientes que, antes de ter a atividade sexual, é necessário conhecer os métodos para evitar uma gravidez indesejada, e que a gravidez tem que ser planejada”, finalizou o médico Luis César.