Tópicos da Semana – Edição de 29/04/17.
Por Mário Aurélio Sampaio e Silva.
Charge: Leandro Gusson (Tatto).
Nas festas juninas tradicionais no interior paulista, quando do momento da Quadrilha, há um ponto em que se diz: Olha a cobra, uh…..é mentira, ahhhh, significando o aviso da peçonhenta, da coisa ruim. Depois, desmente-se, ou seja, logo vem a mentira. Ao transpormos essa ideia para a mídia atual, percebe-se muitas vezes a falta de responsabilidade social, já que a imprensa, modernamente, é chamada de ‘comunicação social’, compromissada com a ética, com a postura.
Legitimidade
Toda profissão deve ser considerada numa perspectiva de serviço. São legítimas outras finalidades pessoais, o ganha-pão. Todavia, qualquer profissão deve se pautar e ser subordinada por um fim social, isto é, uma função a cumprir no meio social. Hoje o aspecto social deve ser posto em primeiro plano. É manifesto o caráter social do trabalho moderno. E tomar consciência de seu papel, dentro da perspectiva de serviço social, supõe um esforço de educação.
Credibilidade…
Na briga por “seguidores”, alguns meios de comunicação de Santa Fé do Sul realmente parecem estar apelando. O que não faltam são as velhas frases como “diversas pessoas nos ligaram…”, “tivemos com exclusividade a notícia”, “várias pessoas nos procuraram…”, e por aí vai. A mídia santafessulense, ao que tudo indica, deve estar se esquecendo do dever de casa, o de checar informações antes de transmiti-las aos seus leitores ou ouvintes. Notícia é coisa séria, jornalismo tem que ser feito com responsabilidade, e não com “assuntos bombásticos” para chamar a atenção dos mais desavisados.
Morde e assopra
É um tal de morde-e-assopra dignos de dó. Faz-se um alarde do tamanho de um elefante, e depois, com a desculpa estapafúrdia de que o assunto foi por fim checado, coloca-se então a verdadeira notícia. O fato é que até que a tal da verdadeira notícia chegue ao leitor ou ao ouvinte, o reboliço foi feito, a notícia errônea muitas vezes já se espalhou, e daí usualmente fica muito mais difícil desmentir do que mentir.
Meu bem meu mal
Parece que temos aí meia dúzia de pessoas torcendo para que tudo da atual administração dê errado, até porque para alguns notícia boa é notícia ruim. Está mais do que na hora de deixarmos de lado a imprensa marrom e assumirmos, de vez, que o papel de qualquer meio de divulgação sério é o de informar os fatos, sem maiores estardalhaços.
Operação Beirute
“A ganância move o ser humano. Aí não vai nenhuma novidade. Mas quais os limites para a satisfação desse desejo? Quantas pitadas de maldade constroem a receita de uma vida fácil no crime? A cocaína é irmã siamesa da ganância e filha primogênita da corrupção. Nenhuma outra mercadoria no planeta apresenta um lucro tão fabuloso, das mãos do camponês miserável nos Andes até os narizes dos jovens nas baladas ou dos altos executivos em busca de um escape aos tantos contratempos do seu dia a dia”. Foi desta forma que o jornalista Allan de Abreu, do Diário da Região, na edição do último domingo, inicia sua matéria sobre seu livro-reportagem “Cocaína: a rota caipira”.
O livro
Ainda segundo o jornal riopretense, em 2000, a Polícia Federal criou uma base ultrassecreta em Rio Preto, com um grupo de agentes de ponta no combate ao narcotráfico, entre eles Mariano Beltrame, que depois se tornaria delegado e secretário de Segurança Pública no Rio. O livro revela detalhes do trabalho da Fênix pela primeira vez. No seu período de atuação, a base de monitoramento e vigilância de traficantes apreendeu 2,25 toneladas de cocaína, 7,3 toneladas de maconha e 45 quilos de pasta-base, além de 112 veículos, entre carros e caminhões, e oito aviões. Nesses flagrantes, 173 foram presos.
Mula
Há um capítulo que narra a trágica aventura de um jovem riopretense aliciado pelo “barão do ecstasy” para levar dezenas de cápsulas de cocaína no estômago até a Holanda. Ao chegar a Amsterdã, Lucas Bega da Cunha não conseguiu expelir todas as cápsulas e, pouco antes de morrer, foi largado na porta de um hospital. O caso é narrado em detalhes em um diário pelo traficante Israel Dias de Oliveira, filho do barão que recebeu Lucas na capital holandesa.
Chuva de coca
No livro, ainda segundo a reportagem do Diário da Região, há o relato de um cidadão que “nascido em Palestina e radicado em Mato Grosso, Valdenor Marchezan ficou conhecido por literalmente pulverizar a Chapada dos Guimarães com cocaína pura jogada de um avião, ao fugir de uma blitz policial. Em 1999, montou um curso de paraquedismo em Ipiguá para camuflar o transporte de cocaína em aviões da Bolívia para a região. Preso, Marchezan foi ouvido em 2000 pela CPI do Narcotráfico no Fórum de Rio Preto”.
Investigação
Ainda segundo o Diário da Região, “a Operação Beirute, que investigou um grupo de traficantes libaneses radicados em São Paulo, captou conversas em árabe da quadrilha sobre supostos favores devidos pelo deputado estadual Itamar Borges (PMDB), ex-prefeito de Santa Fé do Sul e aliado de primeira hora do atual prefeito de Rio Preto, Edinho Araújo. Essa mesma quadrilha mantinha relações com a cúpula do poder em Brasília, incluindo ministros do STF e o presidente Michel Temer. A PF apreendeu carregamento de mais de uma tonelada de cocaína pura do grupo. Procurado pelo autor do livro, Itamar não quis se manifestar”.
Resposta
O Jornal entrou em contato com a assessoria de imprensa do deputado Itamar Borges, que afirmou que “com relação à matéria publicada pelo jornal Diário da Região sobre o livro do jornalista Allan de Abreu, o deputado Itamar Borges informa que a matéria aborda uma passagem isolada do livro, em que uma pessoa afirma conhecer o deputado Itamar Borges. Não menciona nenhum envolvimento do parlamentar. Durante o período eleitoral, o parlamentar se relaciona com lideranças e participa de reuniões e encontros em diferentes grupos e comunidades, como sindicatos, entidades de classe, clubes, associações de bairros, entre outros. O relacionamento político, seja durante a campanha eleitoral ou no exercício de seu mandato, é o único que o parlamentar possui com estas entidades e comunidades. Também a este semanário, a assessoria do atual prefeito de São José do Rio Preto, Edson Edinho Coelho Araújo, explicou que “o Edinho não tem nada a comentar. Nos pareceu totalmente sem propósito a inclusão do nome dele no box da matéria”.