IGREJAS GAYS CRESCEM NO BRASIL

Publicado em 19/01/2016 05:01

A ciência e a maioria dos países já se convenceram que não há nada de errado em ser homossexual. Agora é a vez das religiões. Este século 21 assiste a uma abertura lenta, mas contínua, dos templos. O papa Francisco já pediu o acolhimento deles nas igrejas católicas. Denominações presbiterianas e metodistas celebram casamentos gays. Igrejas anglicanas e luteranas ordenam bispos com essa orientação. No Brasil, há um grande crescimento das chamadas igrejas inclusivas, seguidoras de uma teologia que prega que a diversidade humana é uma obra divina. A primeira surgiu em 1998. Atualmente no país existem mais de 30 diferentes denominações. Mas, por aqui, os evangélicos gays estão no meio do tiroteio que os cristãos tradicionais e a comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais e Transgêneros) estabeleceram nos últimos anos, quando os homossexuais passaram a exigir direitos e proteção do Estado. Mesmo criticados pelas duas trincheiras, eles mostram que é possível uma comunhão entre fé e afeto.
Todas as religiões do mundo exaltam a sinceridade e a fraternidade, mas poucas aplicam esses valores diante de pessoas que amam outras do mesmo sexo. Primeiro, as igrejas exigem que os gays ocultem e reneguem suas atrações. Depois, se eles não conseguem, são discriminados, punidos ou expulsos das igrejas. Religiosos adoram uma revelação divina, mas não desse tipo.
Lanna Holder e Rosania Rocha sentiram a provação na carne. Quando se apaixonaram, elas viviam em casamentos heterossexuais (Rosania com um pastor) e cuidando dos filhos. “Deus é um ser de amor, não é um juiz implacável. Fiquei anos fazendo jejuns, orações e terapias de regressão à infância para reverter meu desejo e não funcionou. Só quando a Rosania estava perto de mim eu estava bem. Isso foi um sinal divino”, relata Lanna.
Depois que se separaram de seus maridos, foram chamadas de “sem-vergonha”, “safadas” e “endemoniadas” por aqueles que eram seus irmãos de fé. Lanna não era mais chamada para pregar. Ninguém mais convidava a cantora Rosania para os louvores. Mas a via-crúcis delas teve também uma redenção: em 2011 o casal fundou em São Paulo a igreja Cidade de Refúgio, uma das denominações inclusivas que mais atraem principalmente os fiéis “convidados a se retirar” de outros templos.
A teologia inclusiva se apresenta como a única forma de os gays terem uma vida religiosa plena, mas até internamente essas igrejas sofrem dilemas: são santuários de gueto ou de transição? Esses templos recebem também heterossexuais, mas ali eles são minoria. Por outro lado, as grandes religiões estão adotando estratégias para não perder esses adeptos. Sobre o assunto, o historiador Leandro Karnal, especialista em religiões, dá a pista: “O futuro destas igrejas dependerá de oscilações do mercado da fé. Mas igrejas raramente fecham”.
A longevidade do primeiro local de culto gay é prova disso. A Igreja da Comunidade Metropolitana surgiu em 1968 em Los Angeles (EUA), um ano antes do primeiro protesto LGBT do mundo, que aconteceu em Nova York, para reclamar da violência policial em bares gays. Hoje em dia, essa igreja tem 43 mil integrantes, com 222 congregações em 37 países, inclusive no Brasil.
A expansão, porém, não foi fácil. Fora as ameaças de morte e as agressões físicas aos fiéis, em todo o mundo 21 igrejas da denominação foram incendiadas ou destruídas. Não por nada no Brasil a maioria das igrejas inclusivas fica protegida em sobrelojas, galerias ou dentro de edifícios. Há sempre o temor da violência dos intolerantes.

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