O Sim que Liberta

Publicado em 6/12/2025 00:12

Solange das Flores Nascimento (Sol Flores) – Psicóloga psicanalista, atriz e diretora profissional e pós graduada em metodologia do ensino

Depois de tanto “não”, o corpo desaprende a dançar. A alma fica quieta, encolhida, pedindo licença até pra existir. Mas há um instante, um só, em que o ser humano cansa de sobreviver e resolve, enfim, viver. É o momento em que o “sim” nasce.
Não aquele “sim” educado, automático, mas o “sim” que vem de dentro, que tem gosto de verdade e cheiro de recomeço. O “sim” que é um grito suave: sim, eu quero estar aqui.
A psicologia ensina que o “sim” autêntico é cura. É quando a pessoa, depois de anos se escondendo atrás do medo, reconhece que tem o direito de ser feliz. E o direito de errar também. Porque viver é se permitir, não se punir.
A arte, essa irmã da alma, entende isso melhor que ninguém. Ela é feita de “sins”.
Cada traço, cada nota, cada gesto é uma permissão: “sim, posso sentir.” “sim, posso ser.” “sim, ainda acredito.”
O “sim” liberta porque ele reconcilia o humano com o seu próprio desejo. E o desejo é o pulso da vida. Sem ele, tudo apodrece. Com ele, até a dor encontra sentido.
O mundo tenta nos convencer de que dizer “sim” é fraqueza. Mas o verdadeiro “sim” é coragem. É o sim que enfrenta a vergonha, o julgamento, o costume. É o sim que abre a janela, que busca o sol, que entende que estar vivo é o maior ato de rebeldia num tempo que insiste em matar o sentir.
O “sim” é arte em movimento. É pincelada sobre o cinza. É música no meio do ruído. É o beijo que vence o medo. É o passo que rompe a inércia.
E um dia, sempre há esse dia, a gente percebe que o tempo não volta, mas o brilho pode voltar. Basta um “sim” sincero pra acender tudo outra vez.
“Sim, quero pintar.” “Sim, quero recomeçar.” “Sim, quero amar.” “Sim, quero perdoar.”
“Sim, quero existir sem pedir desculpas.”
Porque o “não” fecha portas, mas o “sim” abre caminhos. E talvez o segredo da vida seja simples assim: depois de tanto medo, dizer, finalmente, com o peito inteiro,
sim, eu me escolho.

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