Quando o Silêncio é o Último Aplauso

Solange das Flores Nascimento (Sol Flores) – Psicóloga psicanalista, atriz e diretora profissional e pós graduada em metodologia do ensino
O palhaço entra em cena. A pintura no rosto tenta esconder o cansaço, mas os olhos… ah, os olhos não mentem. O público espera o riso, mas ele sente o peso do vazio. E então percebe: o espetáculo acabou, só esqueceram de avisar.
Vivemos tempos em que o barulho substituiu o sentido. Todo mundo fala, grita, opina, promete. Mas ninguém escuta. Ninguém sente. E o silêncio, que antes era pausa, agora virou protesto.
Porque há momentos em que o silêncio fala mais do que qualquer aplauso. Ele diz: não acredito mais. Ele sussurra: já cansei das máscaras, dos discursos, dos falsos gestos. O silêncio é o último ato de quem se recusa a aplaudir o vazio.
O mundo virou uma peça longa demais. Os atores já não lembram o texto. As falas são as mesmas, ensaiadas, ocas. As pessoas sorriem por reflexo, choram por conveniência, e dizem “tudo bem” com o coração em ruínas.
A ética, essa personagem esquecida, saiu de cena sem aplausos. Foi vaiada por um público que prefere o espetáculo ao conteúdo. O respeito, o compromisso e a verdade foram substituídos por versões, edições e performances. E quando o humano se torna um produto, o silêncio é o único som honesto que resta.
O palhaço, esse velho sábio travestido de bobo, sabe. Ele entende o poder do silêncio.
Sabe que, quando o riso se torna automático, é porque a alma já não participa. Sabe que rir sem sentir é chorar disfarçado.
Talvez o que o mundo precise não seja de novos discursos, mas de uma pausa, um respiro, um instante de verdade entre uma mentira e outra.
Porque a verdade não precisa de palco. Ela acontece no olhar que sustenta, na palavra que cumpre, no gesto que permanece quando a plateia já foi embora.
O silêncio é o último aplauso porque é o único que ainda carrega respeito. Respeito pela arte, pela vida, pela alma humana. Quando não há mais o que aplaudir, é no silêncio que nasce a consciência.
E talvez, nesse exato instante, em algum canto do mundo, um palhaço esteja tirando a máscara, não porque desistiu, mas porque entendeu que a verdade, mesmo triste, é o único espetáculo que ainda vale a pena.

